terça-feira, dezembro 16, 2003

Claire de Lune


Enquanto a chuva desaba torrencialmente lá fora, fico a repassar mentalmente todos os projetos estabelecidos e não cumpridos. Todas as amarguras vividas, os amores passados e oportunidades perdidas. Um estranho sorriso brota de meus lábios. Não há explicação para o mesmo, haja visto minha doença terminal e o tempo chuvoso que agrava ainda mais as dores em minhas costas.
A televisão, minha única distração, não me traz nada além de futilidades e me oferece um estilo de vida incompatível com a minha idade e mais ainda, minha mentalidade. O violão está abandonado por que meus dedos não têm força sequer para um dó maior. A mim só resta contentar-me com a dificultosa leitura e com a visita esporádica de meu filho. Aliás, acredito que hei de vê-lo hoje.
A chuva aumenta e ri de mim ao bater de encontro à minha janela. "Egoísta"; ela diz. Zomba da disparidade entre meu combalido corpo e minha lúcida mente.
Volto a relembrar meu passado e procuro visualizar onde errei. Percebo que, ao contrário do que dizem, o abandono sofrido não foi nada mais do que consequência natural de meu comportamento. Restou-me apenas meu próprio ego e a minha inimiga, que teima em rir de mim a não poder.
Retorno à televisão. Uma vagabunda qualquer rebola para conseguir alguns aplausos. Um jovem, com trajes estranhos divulga seu romance "escrito com os culhões". Uma criança me diz para não esquecer de comprar sabonete. Um soldado morre dizendo que nunca esqueceria o seu amado. Não aguento a tortura e desligo o aparelho, estilhaçando em seguida o controle remoto à parede. Tento me levantar, caio e sinto o chão frio esfarelar alguns de meus ossos. Tento chamar pelo enfermeiro, mas não alcanço o botão. Pressinto o fim chegando e a tal paz que o Pastor me disse não vem. em meu último fragmento de consciência diviso a fragilidade da vida e compreendo que é melhor mesmo encerrar minha passagem por aqui mesmo...

segunda-feira, novembro 17, 2003

Help me to build - Final


Voltava da escola, mãos dadas com Nadine, quando avistei fumaça vinda de minha casa! Corri, como minhas pernas permitiam, mas não a tempo de evitar o desastre. Uma vez mais mue santuário era queimado e uma vez mais as lágrimas me impediam de agir. Nadine chegou-se a mim, abraçando-me e me dizendo que podíamos fazer tudo de novo, só que agora juntos. Mas ela não entendia minha dor, nem meu segredo:
- Não, Nadine, nada pode ser feito. Não enquanto aqueles malditos empestearem o ar por onde passam com suas vidinhas patéticas. Eu vou me vingar e nada vai me impedir! NADA!!!!
- Max, acalme-se! Isso não leva a lugar nenhum, você bem sabe.
- Se você não me apóia, você está contra mim! SUMA!
- Mas...
- Sem mas!!! DE-SA-PA-RE-ÇA!!!
E às lágrimas ela me abandonou, muito mais por medo do que pelo ódio que eu julagava que ela sentisse. Só então percebi que meu anel brilhava mais do que o comum. Mas, tomado pelo ódio e pela obstinação, fui ao "Clube", onde meu rival reunia seus amigos para beber e fumar às escondidas. Não havia em mim qualquer traço de humanidade; eu era uma besta ensandecida:
- Saia agora daí, seu animal! Você vai pagar pelo que fez!
- Qualé, manezão. Só porque eu queimei a sua casinha gay você vai estressar? Constrói de novo, que eu vou lá e queimo.
Apliquei-lhe um direto de direita tão forte que dois incisivos voaram em pleno ar. Quando ele caiu, chutei-o muitas e muitas vezes; sentindo minha mão queimar conforme a sede de sangue aumentava. Eu podia matá-lo, eu queria matá-lo e assim eu o faria se uma doce voz não me impedisse:
- Max! Pare! Você já provou o que queria, venha comigo e esqueça esse maldito.
Reconstituído de minhas faculdades mentais divisei que Nadine estava certa e que aquilo não valia a pena. Beijei-a longamente e, de mãos dadas, voltamos à minha casa.
Chegndo lá, qual não foi meu espanto ao meu meu castelo inteiro, como se nada houvesse acontecido, olhei atônito para Nadine e então entendi:
- Era você?
- Sim meu amor. Eu lhe dei o anel para selar nossa união. Agora venha comigo para dentro e deixemos esse maldito mundo para trás.
Entramos e eu pude ouvir a porta batendo atrás de mim para nunca mais se abrir. Enquanto íamos ao nosso quarto, eu via e sentia as chamas consumirem as paredes mais uma vez. Mas nada disso importava agora, pois eu seria feliz, e para sempre.
Help me to build - Part II


O verbo dito por aquela jovem ecoava em minha mente como os acordes poderosos de uma melodia hipnótica. Inconsolado com as pessoas e abandonado por todos os raros amigos à solidão; resolvi investir tudo em meu castelo. Faltava aulas, não comia, dormia apenas quando o corpo não mais aguentava o cansaço. Em pouco menos de um mês tinha em meu sntuário com o dobro do tamanho e muito mais bonito do que quando ele fora reconstruído daquela forma estranha.
Tudo estava perfeito e a felicidade ameaçava instalar-se novamente em meu coração. Chegava de mansinho buscando um lugar e, num dia de sol enquanto eu trabalhava, ela tomou forma:
- Olá! É um belo trabalho esse que você está fazendo. Alguém na tua idade dificilmente conseguiria fazer o que você faz.
Virei-me e jamais esquecerei o que minhas retinas registraram. Ela era linda, tinha os cabelos totalmente brancos e olhos de um negrum einacreditável. Seu sorriso encantador demonstrava que seu elogio era verdadeiro:
- Assim eu fico sem jeito, nunca elogiaram meu trabalho. Quer conhecer o itnerior? A propoósito, me chamo Max.
- Nadine. E seria um prazer conhecer tão bela obra.
Caminhamos pelos corredores criados por minhas próprias mãos e fui apresentando e contando cada segredo escondido nos cômodos. Nadine retornava todos os dias ao castelo e líamos, ríamos ou simplesmente éramos felizes. A companheira que meu lar tanto esperara havia chegado.
À insistência de meu amor, voltei a ter vida social. Frequentar a escola e outras inutilidades do gênero. Uma vez mais eu era incomodado pelos valentões. Agora mais ainda, pois a presença de Nadine ao meu lado chamava muito a atenção de meusupostos inimigos. Fazia-me de superior e não dava a mínima. Até agora.

segunda-feira, novembro 03, 2003

Help me to Build - Part I


Fui uma criança solitária e não conheci sequer o aconchego e a segurança dos braços de meus pais. Os deuses negaram-me tudo o que é necessário ao bom desenvolvimento de uma criança. Por conta disso, alicercei-me por minha conta e risco. Construí, aos fundos de minha casa, o meu lugar secreto. O refúgio ante todas as dificuldades e torturas que só quem sobreviveu à adolescência conhece.
Enquanto os de minha idade preocupavam-se em namorar e desposar lindas jovens eu apenas construía, aumentava meu refúgio, na esperança de um dia não mais ser sozinho. Criava cômodos, quadros, móveis. A espera de uma companheira imaginária que, meu coração sabia, não iria jamais chegar.
Eu era feliz alimetando minhas fantasias, até que sobreveio a desgraça. Seguido por meus algozes do colegial, fui amarrado à entrada de meu santuário e aenas assisti, imóvel e aos prantos, enquanto tudo era destruído, violado e por fim queimado; ao som das gargalhadas dos malditos. Por horas gritei e implore, sem resultado, que me deixassem sair. Só fui libertado à noite, por uma bela jovem que enxugou minhas lágrimas e se foi, abandonando-me.
Em desepero tentava salvar do fogo pedaços de meu lugar, inutilmente. O sangue brotava de meus pulsos e jurei, por minha honra, reparar meu santuário e fazer com que os malitos pagassem. Trabalhei varando a noite e adormeci sob o calor das chamas que consumiam como que pedaços de mim.
Acordei com o som de uma voz doce a sussurrar meu nome. Levantei-me em um átimo e qual não foi minha surpresa ao ver meu santuário em pé, inteiro, como sempre esteve desde sempre. Indageui como aquilo fora possível e a jovem, de cabelos brancos e olhos negros, respondeu-me:
- Aceite meu presente e construa...
Suas mãos portavam um anel, que brilhava como que me chamando. Tomei-o e um clarão surgiu, ofuscando-me. Quando recuperei a visão, a mulher não estava mais lá. E o anel estava em meu dedo.

quarta-feira, outubro 29, 2003

Finally, the end!


Não me peçam descrições detalhadas sobre o que aconteceu, haja visto que mesmo agora, enquanto escrevo essas linhas, não compreendo o ocorrido. Sei apenas que, assim que concordei com a estranha condição de Racla, uma luz imensa tomou conta do lugar, uma tontura estranha me invadiu e me vi novamente ao piano, apresentando-me aos mascarados da festa de Racla. O estranho dejá vu chegava a nausear-me. Aguadava novamente o grito de Clara para então poder mudar o maldito desfecho daquela noite. Mas o grito não veio.
Intrigado, deixei por isso mesmo e agradeci aos deuses a nova chance. Ao final de meu número, fui ao fundo do palco encontrar meu amor e não acreditei em meus olhos. Clara devorava carne crua às dentadas, juntamente com os dois homenzarrões da perseguição. Tomado pela fúria e pelo desespero, apenas pensei em fugir. Mas, ao girar dos calcanhares, dei de cara com a responsável por tudo aquilo:
- Aonde você pensa que vai? Temos um trato, lembra-se?
- Eu estou me lixando para esse maldito trato! Clara! Vamos embora daqui!
Uma voz difrente, nefasta, respondeu-me:
- Por que meu querido? A Racla é tão amistosa e legal com a gente. Nós podemos até nos divertir bastante juntos...
Ao término dessa frase, Clara aproximou-e de Racla e a beijou. Tão apaixonadamente quanto me beijava em nossos momentos mais íntimos. Impossível manter a sanidade diante de ateradora visão! Aproveitando a distração de todos pus-me a correr em direção a multidão. Ledo erro.
Abria caminho pela multidão de mascarados, que não intervia em minha passagem, mas faziam pior. Mostravam-me seus rostos. Figuras cadavéricas, pedaços de carne faltante junto aos ossos, vermes atravessando buracos na pele do rosto; tudo isso ainda é nítido em minha memória. Quando finalmente chego à saída, duas mulheres abraçadas me esperam; ambas trajam máscaras iguais, aparentemente de cerâmica, brancas, para contrastar com o negrume unfinito de seus vestidos. Decido não forçar passagem:
- Por favor, eu preciso sair desse lugar. Ajudem-me!
- Mas é claro! Siga-nos.
- Irei aonde quiserem, mas mostrem-me seus rostos.
Ante meu pedido, caíram as máscaras e também minha sanidade me abandonou. Ambas tinham o rosto esguio, olhos vermelhos e dentes! Dentes afiados como as presas de um lobo! As estranhas figuras sibilavam para mim, me amendrontando ainda mais:
- Você não ouse ssair do casstelo de Racla! Ninguém deixa essse lugar vivo! Você vai sse tronar um de nóss asssim como ssua linda noivinha.
Uma estranha força dominou-me e voltei a correr, por entre a multidão que limitava-se a rir, freneticamente, hipnotizando-me e me deixando ainda mais perdido. Então, milagroamente, uma porta. Arrombei-a e pude sentir o ar da noite.
Corri até meu carro, pensando apenas em salvar minha vida e dirigi, sem olhar para trás, até o lugar onde antes havia capotado. Ao chegar lá, deparo-me com o mesmo Buick preto, trancando a pista e me esperando.
Desço, resignado, mas escondendo em minha manga um revólver, com o qual esparava defender-me. Os canibais imobilizaram-me e me levaram até perto do carro, onde Racla e Clara me esperavam:
- Você sabe que é meu, Pianista. Ninguém foge de mim.
Ao dizer isso, Racla lambia meu rosto, causando-me náuseas.
Tomei então da arma e disparei, dois tiros certeiros em Racla, que tombou. Seus homens, atônitos, não foram rápidos o suficiente para evitar que eu rolasse barranco abaixo. Ouvi apenas o grito inumano que brotava da garganta de minha outrora doce Clara.
Agora, escondido, relato a quem encontrar essa carta o meu trágico destino. Que Deus apiede-se de mim.
- Olá, meu amor. Eu sabia que iria encontrar-te.
- Eu também. Ou você achou que se livraria assim tão facilmente de mim?
- Como você pode estar viva?
- Não tente compreender, apenas aceite seu detino. Clara, faça as honras...
- Não Clara! Lembre-se de mim, por favor, pare!
- Você prometeu cumprir a ordem dela, agora pague o preço! dê-me sua mão.
- Esta pedra deve servir. Aqui vai!
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!! Minha mão! Minha mão! Maldita! Mal... di.. t...
- Apagou! Agora, minha escolhida, mate tua fome e seja minha herdeira...
- Sim, meu amor...

sexta-feira, outubro 24, 2003

Part II


Nada havia me preparado para aquilo. Assim que ouvi os gritos de Clara, corri para o fundo do palco e vi; dois homens comiam o que pareciam ser pedaços de carne crua, arrancavam nacos enormes sem sequer se preocupar com quem estivesse por perto. Ante àquela estranha visão, vomitei a ponto de sujar toda minha roupa. Amparado por Clara, exclamei enquanto me recuperava:
- Vocês estão malucos? Isso é nojento! Aonde está Racla que não toma uma providência?
Imediatamente uma voz doce, porém de uma estranha força, respondeu-me:
- Mas eles estão apenas experimentando a carne para ver se está fresca; antes de servi-la a todos.
Atônito, não pude responder. Clara interviu em meu socorro:
- Deus mulher! Isso é inconcebível! Vamos embora daqui meu amor, por favor. Eu odiei este lugar desde que pisei aqui.
- Esqueça seu dinheiro Racla. Estou indo embora. Adieu!
Fomos ao meu carro e nos dirigiámos à nossa casa. Eu só queria saber de mudar de roupa e da minha cama. Nem mesmo as carícias de Clara em meu rosto conseguiam apagar aquela lembrança nauseante. Seguíamos normalmente nosso caminho quando Clara me diz, surpresa:
- Meu Anjo, estão nos seguindo.
Uma olhadela e a constatação. Os dois "canibais" nos seguiam a uma distância razoável. Pisei fundo para tentar despistá-los. O Buick preto que me seguia também acelerou e iniciamos um "racha" digno de filmes de ação. Porém, num microssegundo de distração, errei um tempo de freada e as consequências foram desastrosas. Um choque com o guard rail e uma capotagem espetacular morro abaixo. Milagrosamente sobrevivi e consegui retirar minha amada, inconsciente, do carro antes que esse explodisse. Os dois homens do Buick pararam e apenas me observavam da estrada.
Recuperado do susto, voltei minha atenção ao meu Anjo. Morta. Apenas um pequeno corte aberto em sua testa, porém, nada de pulso, a vida a abandonara. Um grito gutural brotou e as lágrimas rolavam descontroladamente. Meu pranto só foi interrompido quando senti um toque macio em meu ombro. Racla:
- Você a quer de volta? Eu posso devolvê-la para você.
- É claro que isso tem um preço. O que você quer em troca?
- No momento, apenas que você toque em minha casa toda sexta à noite. Mas quando o tempo chegar, você deverá atender um pedido pedido sem questionar! Aceita?
Eu duvidava ser possível, então aceitei sem pestanejar. E uma vez mais tive uma surpresa maior ainda do que a anterior.

quarta-feira, outubro 22, 2003

Experiments - Parte I


Je vou salue, Marie, pleine de grâces, le Seigneur est avec, vous âtes benie entre toutes les fammes, et Jésu, le fruit de vos entrilles, est beni. Saite Marie, máre de Dieu, priez pour nous, pauvres pécheurs, maintenant et à l? heure de notre mort. Ainsi soit-il!
Essa oração, a única que sei, herdada de minha mãe, é hoje a única maneira que tenho de pedir a quem quer que me ouça nessa escuridão. Peço pelo descanso de sua alma, peço pela paz em meu coração e,mais ainda, peço à Virgem para que me perdoe pelos atos atrozes que cometi e que culminaram nessa maldita tragédia da qual posso considerar-me protagonista. A você, que encontrou esse escrito e não entedeu nada, começarei então a explicar tudo. Essa é minha confissão e também a carta de um homem que se deixou dominar pelo desespero.
Tudo começou em uma linda noite, onde eu apresentava um recital de piano para seletos convidados, todos abastados o suficiente para bancarem minha viagem ao Concurso Chopin com uma única pescada em seus bolsos. Era esse meu objetivo ao me vender àqueles emplumados que nem sequer imaginavam o verdadeiro valor da arte. Doava um pouco de minha paixão em troca de alguns trocados; Deus! Como me sentia sujo! A única coisa que me impedia de abandonar tudo era minha amada Clara. Somente ela tinha o dom de me acalmar e me fazia perceber que aquilo era um mal necessário!
A noite correu como esperado e diversos cheques "voluntários" chegaram ao meu bolso. Menos mal, pois agora o mundo finalmente veria um verdadeiro intérprete em ação. Entediado, abracei minha querida e ia para casa, dispensando farta comida e diversas taças de prosseco, mas, assim que cheguei à porta um toque suave em meu ombro fez virar-me:
- Lindo! Absolutamente maravilhoso! Não há como descrever minhas sensações ao lhe ouvir tocando!
- Bom, se você gostou tanto assim de ouvir meu namorado, pode nos dar um donativo, para que ele possa correr mundo mostrando seu talento. Srta...?
- Racla! Racla Tozzuque! Ficarei feliz em patrocinar um homem tão talentoso, porém, como é meu bolso quem sentirá tenho uma pequena exigência a fazer.
- Pois diga! Será um prazer servir tão linda dama.
- Eu gostaria que você tocasse em uma festa em minha casa!
- Sinto muito, mas meu repertório é exclusivamente erudito!
- Pois é exatamente isso que eu quero que você toque.E por favor, traga sua agaradável namorada também. Eis meu endereço! Estará tudo preparado para sua apresentação, amanhã mesmo!
E à noite fomos, eu e minha Clara, até o endereço determinado. Um castelo, de proporções colossais, localizado nos limites da cidade. Fomos levados pelo pelo porteiro e realizei ser aquele um baile de máscaras, onde todos vestiam-se com a elegância da renascença. Subi ao palco e sob aplausos colorosos pus-me a executar as mais belas valsas de Strauss, muito de Mozart e, é claro, Chopin, minha especialidade.
As coisas não podiam ser mais perfeitas, até o momento em que percebi que minha Clara havia sumido. Não me preocupei de imediato, mas meu sangue gelou ao ouvir um grito estridente vindo detrás do palco. Abandonei meu piano e corri, apenas a tempo de ter uma das mais terríveis visões de minha vida.

terça-feira, outubro 21, 2003

Happy Birthday


E eis que hoje faço anos. Assim como você os faz e assim como nosso casamento também. Por um estranho capricho do destino, nascemos no mesmo dia e na mesma hora. Lembro-me ainda do espanto mútuo gerado por essa estranha descoberta. Então, após um bom tempo de namoro, nos casamos; exatamente no dia de nosso aniversário. E hoje eu venho até aqui, apenas para recordar como o fim se deu.
Éramos felizes e tínhamos tudo que um casal poderia querer. Boa casa, bons empregos, dinheiro em quantidade suficiente para podermos viajar uma vez ao ano por até dois meses, ou mesmo para trocar de carro a cada dois anos. Éramos tidos como exemplo de prefeiçao matrimonal entre nossos amigos e muitos chegavam a declarar que invejavam nossa união estável e perfeita.
Mas a perfeição é a pior das armadilhas preparadas para o ser humano, e o deuses nos deram um excelente alerta para que não fôssemos vencidos por esse obstáculo que facilmente devora os desavisados e de mente pequena. Filhos, ou melhor, a ausência deles.
Por culpa de um mal genético em minha família não podíamos ser completos; e todo dia isso me era jogado com a força de facas lançadas contra meu coração. Minha amada declarava-se a mais infeliz de todas as criaturas, culpando-me sempre por essa desgraça. Por muitas vezes sugeri adoção, mas Glorianna tinha isso como fora de cogitação.
O tempo passou, e eu, não conseguindo suportar mais as agressões, refugiei-me no álccol. Tornei-me a mais vil de todas as formas de vida. Agressivo, respondão e desleixado. Não havia mais paz em meu lar.
Numa de minhas muitas bebedeiras, fui recebido aos tapas, e descontrolado, empurrei Glorianna com toda minha força. Na queda, seu pescoço chocou-se na quina da pia e instantaneamente a vida abandonou seu corpo. Em pânico, e sem poder reagir, entreguei-me à justiça a cumpri exatos treze anos de cadeia.
Há um mês estou livre e hoje, dia o nosso décimo terceiro aniversário, venho ao teu túmulo apenas para lhe entregar o que nunca pude lhe dar, uma vida, mesmo que seja a minha. Pois somente assim, teu espírito há de descansar e deixará de atormentar mesu sonhos.

quinta-feira, outubro 16, 2003

Scrivimi


Nada como mais um dia na livraria para acalmar os meus ânimos. As palavras desenhadas nas grandes obras tendem a me satisfazer como uma droga da qual é impossível escapar. Leio tudo o que encontro pela frente, de bulas de remédio a instruções de aparelho domésticos.
Volto pra casa após ter incomodado o dono da livraria com meu enorme pedido de livros mensal. Saio, satisfeito por abastecer-me de cultura e sigo distraidamente meu caminho, até ser interpelado por um estranho velho, de barbas longas e que trajava ropas puídas e malcheirosas:
- Por favor, uma ajuda para um necessitado!
Tomei de algumas moedas e as entreguei, sem nem mesmo olhar para aquela estranha figura. Sua reação foi muito inusitada:
- Eu sabia que o senhor era uma alma boa, por favor, aceite esse presente!
E entregou-me um estranho livro, com uma capa já velha, comida por traças e com letras em dourado, nas quais se lia com dificuldade o título da estranha obra: Milagres. Não conhecia a obra e muito menos podia imaginar seu autor; e como não me era possível identificar quem escreveu resolvi perguntar ao velho. Inutilmente, pois ele já havia sumido de minhas vistas.
Levei o estranho livro para casa e ajeitei-me em meu sofá favorito para devorá-la. Mas qual não foi miha surpresa ao perceber que havia apenas uma única frase escrita no livro e que muitas folhas anteriores àquela estavam rasgadas. A palavra Socorro, grafada em letras tremidas tinha um estranho poder sobre mim, causava-me arrepios. Decidi largar a obra de lado e retomar minha vida.
Passou o tempo e nem me lembrava do estranho livro, até encontrar novemente com o velho, interpelei-o e apenas ouvi um murmurado: Escreva... e o velho caiu aos meus pés. Com o coração na boca, apenas pude correr, e o verbo escrever pairava nas áreas desertas de minha mente.
Chego em casa e corro em direção ao livro; a voz do velho ainda ecoa em minha mente. Sento-me defronte ao livro, pego um lápis e escrevo:
Era uma vez...
As palavras desaparecem tão logo escritas e fico sem entender nada; mas, teimoso como sempre decido continuar e começo a escrever coisas vagas:
Esperança, dor, medo, tudo é escrito e desaparece; mudo o parâmetro:
Carro.
Um brilho estranho me cega e, qual minha surpresa ao olhar para minha garagem e ver que lá está um carro, não novo, mas um carro. Me empolgo e começo a "pedir" de tudo. Casa nova, piscina e tudo o mais, sendo sempre bem descritivo, pois, se o livro não "entendesse" o pedido, nada eu recebia. Continuei até não haver nada que eu quisesse naquele momento, tranquei o livro em um cofre e fui me deitar, pensando nas maravilhas conquistadas com meu novo brinquedo. A noite, um estranho sonho povoa a minha mente:
- O Preço!!! Muito cuidado com o Preço!!!
De sobressalto, acordo ainda com a imagem do velho a me sacudir e a gritar. Suando frio, vou ao chuveiro e deixo que a água me acalme. Após a toilette vou ao meu escritório e me sento para novos pedidos. Assim passo o dia e, mesmo querendo ainda mais, vou dormir sentindo-me o rei do mundo.
Uma vez mais, o mesmo sonho.
Manhã! Como um monstro de olhos verdes, corro para pedir, pedir e pedir; escrever, escrever e escrever. Nada me satisfaz, queri cada vez mais. Preciso preencher o livro todo. Não vejo as horas passarem e desabo sobre o livro, vencido pelo cansaço.
E durmo apenas para sonhar o mesmo sonho...
Então acordo, dolorido e percebo que meu livro não está comigo. Ouço risadas e barulho de papel rasgando! Em desespero, corro até minha sala e vejo uma figura pequena, de vivos olhos vermelhos, pernas estranhas e UM RABO! A estranha criatura rasgava as páginas de meu livro uma a uma e eu, atônito, apenas observava meus bens desaparecendo e via minha residência tomando sua velha forma. Com o que me restava de forças, venci o pânico e gritei!
- CHEGA! Pare com isso agora! Esse livro é meu!
O estranho ser apenas riu e disse, com uma voz quase sibilada:
- Você quer issso?? SSe quer, pague o Preço!
- Eu pago, pago qualquer coisa!
- Que asssim sseja!
Ao término dessas palavras, senti um calor envolvendo meu corpo e uma tontura absurda. Meus olhos não conseguiam divisar se eu estava voando ou se era apenas tontura. Quando o estranho fenômeno cessou, desmaiei, e, ao acordar, vi que em minha mão havia uma estranha marca, como um selo, em um formato que defino apenas como indecifrável. Na parede de meu ecritório, uma mensagem, escrita com fogo:
Você tem cinco dias, aproveite-os bem!
Sem saber o que fazer, desperdicei quatro dias, e agora, ao final do quinto dia, termino minha história deixando esses escritos e esperando que meu destino se cumpra:
- Vamoss?
- Para onde?
- Minha casa! O lugar onde todos aqueles que acham o Livro devem ir!
E tomando a mão da estranha criatura, escrevo com o sangue que escorre de meu pulso a primeira palavra que surge à minha mente:
Fim

segunda-feira, outubro 06, 2003

Uma Homenagem


Lá vamos nós de novo. Outro dia, outra idéia, outro conto. Engraçado o quanto é fácil olhar para essa tela branca e transformar sequências de toques aleatórios em palavras, então em frases. Essas frases em textos e esses textos em livros que formam outras idéias na cabeça de outras pessoas. É quase como uma simbiose; eu sobrevivo transmitindo e meus fãs "sobrevivem" lendo as coisas que com tanto trabalho e suor escrevo.
Mas, como tudo sempre passa, as coisas mudaram. Meus livros não mais vendem, não me procuram, sequer sabem que eu existo. O pouco direito autoral que recebo me permite apenas não passar fome.
Uma editora grande me procura e me pede para que eu escreva algo novo, com a intenção de resssuscitar minha carreira. Reluto, mas as notas postas em minha mão e o ronco de meu estômago me fazem mudar de idéia.
No afã de receber e reencontrar a glória; escrevo uma porcaria sentimentalóide qualquer e entrego. A editora gosta, publica e eu torno a ganhar dinheiro. Compro casa nova, carro novo e abro vaga para empregadas. A fila é grande mas uma se destaca; morena, cabelos lisos e longos, soltos; um corpo escultural e olhos castanhos e vivos. Descarto as outras, pois pensar com a cabeça nunca foi meu forte. Em seu primeiro dia de trabalho Glória me diz:
- Sou sua maior fã. Adorei o seu livro!
A vida corria tranquila e eu, além de escrever, aproveitava a vida ao lado de minha empregada; a qual se podia denominar insaciável. Tudo o que eu escrevia passava pelo seu crivo.
Termino uma nova obra, tão idiota quanto a primeira, e prometo a mim mesmo voltar à velha forma. Dou o manuscrito finalizado à minha amante. Ela apenas sorri e me convida com um olhar:
- Vamos comemorar?
As coisas acontecem como sempre: loucas. Então sou vendado e amarrado, hábito já velho, e aguardo surpresas. Porém em instantes o prazer vira dor e somente consigo sentir pedaços de minha carne arrancados às dentadas. Em meio à dor insuportável apenas pergunto:
- Por quê?
- Você vendeu sua alma por dinheiro. Eu tenho todos os seus antigos livros; era a sua fã número um! Não acredito no que você vem escrevendo! Morra!
E, sentindo o aço penetrar minha pele, expirei...

quinta-feira, outubro 02, 2003

I fell in love with a girl


Noite alta, quase meia noite; hora perfeita para ir à caça. Me encanto com todos os preparativos necessários para se conquistar alguém. Saio de um banho de meia hora e começo minha produção; cremes, perfumes, loções; tudo é cuidadosamente aplicado em sua devida medida e proporção. Cada roupa é escolhida cuidadosamente para que nenhum detalhe esteja com status inferior à perfeição. Em todos esses preparativos consumo tempo suficiente para mudar de idéia e ficar em casa, assisitindo algo mais útil. Mas o desejo vence e, terminando tudo finalmente, vou à caça.
O lugar é o de sempre: Hell´s. Aqui sou um habitué e tenho minha mesa sempre reservada. Como a boate é badaladíssima a variedade de pessoas é impressionante; além de ser um excelente lugar para caçar. Vou à minha mesa, peço meu uísque de sempre e fico à espreita.
Muitos me conhecem e vêm me cumprimentar; outras, casos do passado, nem sequer me olham; e os garçons chamam-me pelo nome.
O tempo passa tão devagar que começo a querer partir tão logo termine meu terceiro copo. Então, como que atendendo ao meu chamado, ela aparece. Loira, alta, olhos claros, cabelos esvoaçantes e um vestido vermelho, longo, acariciando sua forma longilínea. Imediatamente chamo um garçom:
- Quem é essa?
- Ela é nova aqui doutor. Primeira vez.
- Veja o que ela bebe, põe um na minha conta e diga que quero conhecê-la.
- Sim senhor.
Em menos de quinze minutos já estamos a travar um animado diálogo. Conversamos sobre arte, música, filmes, bebidas e outras trivialidades. Então, com ar de enfado, ela diz:
- Esse lugar está chato. Que tal a gente ir a um lugar mais fresco?
- Só se for agora!
Fomos então em meu carro, vagando; pois ela dizia querer apenas rodar. Passamos por diversas ruas até cruzarmos os limites da cidade e nos aproximarmos de uma floresta, onde ela perguntou-me se eu não queria dar uma volta. Estacionei e caminhamos à luz da Lua até uma clareira, onde começamos a trocar beijos, carícias e coisas mais. Minhas mãos percorriam o corpo daquela linda desconhecida como se quisessem decorá-lo; os beijos eram trocados como se fossem sempre os últimos. Após um tempo, ouço-a sussurrar em meu ouvido:
- Quero te amar aqui.
Arrancamos nossas roupas e, com sofreguidão, eu a sentia dentro de mim; suas mãos me acariciavam e eu, de olhos fechados, só sabia aproveitar. Até que senti meu pescoço apertado e respirar tornava-se cada vez mais difícil. Abri os olhos e lhe vejo, como que transfigurada; me dar um sorriso, olhar pro céu e recitar as seguintes palavras:
- Em nome de minha tradição entrego aos deuses minha fertilidade!Que o fruto que nesse momento é concebido em meu ventre possa continuar a ser fiel às tradições assim como minha família sempre foi! E em sinal de minha promessa ofereço uma vida.
E foram as últimas palavras que ouvi, antes de perder a consciência...

quarta-feira, outubro 01, 2003

Save from the nothing I become


Sons, sensações, sentimentos, palavras. Não há como expressar a beleza de um acorde bem produzido, de um belo arpejo, de um compasso bem trabalhado. A música é algo de tão divino que é quase impossível descrever o turbilhão de coisas que se passam quando o som invade meus ouvidos e vidra meus tímpanos. Foi por isso que decidi estudar.
Rapidamente tornei-me um exímio violonista. Executava peças complicadíssimas de memória e conseguia repetir de ouvido quase qualquer obra, após ouvi-la duas ou três vezes. Minha vida se tornou música; era um sonho realizado. Nada atrapalhava minha felicidade e a única peça faltante apareceu exatamente da maneira que eu sonhara.
Eu realizava um recital, lotado. Então ela apareceu e ofereceu-me uma flor; jantamos, passamos a namorar e rapidamente nos casamos.
Nossa vida beirava a perfeição; eu tocava e ela me ouvia, sempre. Penélope costumava se declarar viciada em minhas composições; duas horas por dia, religiosamente, tocava um repertório somente para os ouvidos de meu amor. Deus, como era bom. Mas então sobreveio a desgraça! Amaldiçoo até hoje aquele dia.
Ia eu até uma cidade próxima me apresentar e meu Anjo ficara em casa. Mas, para me fazer um surpresa, ela resolveu dirigir até onde eu estava; não conseguindo manobrar dirieto sob a chuva fina Penélope chocou-se contra o guard rail e faleceu imediatamente! Seu corpo me foi entregue em um recipiente pouco maior que uma caixa de sapatos; nada pode descrever o horror que senti.
Decidi abandonar tudo; menos meu violão. Me atirei de cabeça na carreira e me pus a compor alucinadamente. Meu ritmo de trabalho era alucinante e minhas composições, antes tão alegres e vivas, agora eram tristes e escuras. Fui alvo de diversas críticas mas ainda tinha foraças para viver porque tocava.
O tempo passa, mas a dor não some. Em segredo eu mantinha um estranho e bizarro ritual: Todo sábado à noite eu pulava o muro do cemitério onde meu amor estava e tocava, por exatas duas horas, as músicas que ela mais amava em vida. Isso me afundava mas na dor, mas era inevitável.
E assim levei a minha vida até esse momento, o dia do meu 50º aniversário. Cá estou a frente de seu túmulo, executando tuas canções preferidas e pensando em seu nome, pedindo aos deuses para que possa ver-te uma última vez, pois sinto que a vida se esvai de meu corpo.
Com o que resta de minhas forças executo o último acorde. Viro-me para checar um barulho e me assusto com o que vejo ao me voltar:
- Shon, meu amor. Por todos esses anos eu te ouvi; por todo esse tempo roguei aos deuses que me deixassem olhar teu rosto. Agora fui atendida. Beija-me meu amor, beija-me para que eu me vá em paz.
Tomado de um misto de pânico e ansiedade dirigi-me a ela. Fechei meus olhos e toquei seus doces lábios com os meus; o sabor era exatamente o mesmo de antes e eu também sentia-me jovem como há muito. Naquele infinito espaço em que eu era feliz, decidi abrir meus olhos e olhar-te uma última vez. Deus, não devia ter feito aquilo! Tua carne, despregada da face, deixava vermes à mostra; tuas mãos, outrora delicadas, eram nada menos do que ossos a tocar meu rosto; não havia mais nas órbitas os teus lindo olhos. Em desepero tentei livrar-me. Em vão. Não havia em mim forças para me livrar de teu macabro abraço. Sentia pedaços de meu rosto serem devorados pelos vermes que não mais te queriam. Tomado pela dor, expirei.
Agora, por piedade dos deuses, tenho direito a duas horas por semana para tocar, onde atraio desavisados para aplacar os vermes que devoram a minha pouca carne.

terça-feira, setembro 30, 2003

Wish you were here...


E uma vez mais venho até aqui para me lembrar de ti. Paro em frente à nossa árvore, sinto com a ponta dos dedos o coração com nossas iniciais que o tempo insiste em manter vivo e perfeitamente visível. Passo novamente o filme de nossa relação; nosso primeiro encontro, os beijos, as palavras e todos os atos cometidos até o dia fatídico.
Uma vez mais eu choro; como a criança que foi privada de seus pais. Novamente eu grito aos céus perguntando como e por que foste tão bruscamente retirada de mim. Sinceramente não consigo entender o que aconteceu e como a tua ausência pode fazer tanta falta. Permaneço na floresta até a noite, ouvindo as corujas e todos os outro sseres noturnos que parecem zombar de minha dor. Novemente não resisto às lágrimas e penso em lhe procurar. Penso, repenso, planejo juro não fazer mas acabo indo ao teu encontro.
É tarde da noite quando chego defronte à tua porta. Minhas pernas parecem estar sob ação de magnetos que se não impedem, tornam o ato de andar extremamente doloroso. Toco a campainha uma, duas, dez vezes e nada. Mas sei que está em casa. Entro, revejo os móveis antes tão familiares e ouço tua voz. Uma risada; natural, tranquila e sincera; como as que você costumava me distrbiur. Subo as escadas e encontro-te abraçada. Com outra mulher. Ambas nuas, rindo à toa, se tocando. Então você se dá conta de que estou ali e seu sorriso demancha-se. Quase não tem forças para me encarar e é tua parceira quem abra a boca:
- O que você quer aqui? Não sabe que Ash não qer mais saber de você? A vaga agora é minha!
Desconsolado e em prantos ainda consigo dizer:
- Por quê? Por quê Ash? Responda!
De seus olhos azuis vertiam lágrimas e o silêncio foi sua resposta.
Tomado por um sentimento que só os que perscutaram o inferno conhecem, soltei um grito. Disforme, gutural, insano. Gritei por intermináveis segundos e, tomando de minha Walter PPK, disparei. Cinco tiros em cada uma. Lavei minhas mãos, imundas daquele ato, no sangue de cada uma e saí, tranquilamente, para a floresta onde agora estou.
Enquanto serro esta bela árvore medito sobre o que acabei de fazer e sei que minh aredenção só virá pelas minha próprias mãos. Uma vez mais acaricio minha arma e, com um único tiro, ponho fim a todo o sofrimento.

segunda-feira, setembro 29, 2003

Sorry, I´m late...


A noite, minha amiga, conselheira, ouvinte. Nada pode comparar-se à beleza da lua cheia em seu ápice. E as estrelas, lamparinas de viajantes perdidos, a iluminar o caminho dos que, como eu, seguem a trilha de sons, odores e sensações que a noite propicia.
Trabalho como barman há muito tempo e esse lugar tem sido meu segundo lar e também um campo de estudos sobre o comprtamento humano. Todos os tipos estranhos de que se ouve falar transitam por aqui. Costumo guardar seus rostos e estabelecer algumas conversas com os que me parecem mais interessantes. Muitos buscam na noite apenas refúgio para os problemas do dia ou mesmo uma válvula de escape contra as pressões sofridas em uma existência vazia. Outros querem apenas anular-se e se esconder de seus próprios demônios pessoais, haja visto que a escuridão também serve de abrigo. Estes porém são sempre engolidos por seres mais nefastos e de aparência tão agradável que só se percebe o fim quando ele está próximo demais.
Tudo seguia normalmente até ela aparecer. Pele branca, alva como a neve, cabelos negros como a noite que ela parecia encerrar no coração, mãos pequenas e olhos também negros. Chegou em meu balcão e pediu:
- Vodka! Pura.
A servi e imediatamente anotei na coronha de minha mente suas cracterísticas, para que pudesse aproxiamar-me mais tarde.
Durante toda a noite ela bebeu vodka e trocou olhares com o Japonês, um cliente habitual, cuja única característica marcante era sua total ausência de amor próprio. Trocaram olhares, nos quais ela visivelmente liquidava a já fraca personalidade de meu cliente. Como previsto ela o arrastou para fora antes mesmo do bar fechar. Imagino como ela deve ter destruído aquele pobre homem na cama!
Noite seguinte; lá está ela de novo. O mesmo vestido negro, o mesmo pedido e o mesmo processo. Estranhamente, nada do Japonês, acho que a noite foi muito boa. Novamente ela caça, domina e leva mais um ao seu bel prazer, desta vez o Beberrão. Não entendo o que ela viu naquela besta, sempre de barba por fazer e cabelo seboso, mas não é esse meu trabalho.
Noite de domingo, casa cheia, muito trabalho; mas é impossível não perceber a chegada dela. Toda de negro, soberana. Não há olhar masculino que não se volte para ela. E uma vez mais ela faz seu ritual, levando dessa vez um desconhecido.
Chega a segunda, pseudo-folga. Dois ou três fregueses, sempre que eu não conheço os habituès começam a chegar na terça. Entre um drinque e outro divago sobre a morena; seu nome, suas preferências estranhas, seus motivos. E então, como que me ouvindo, ela chega. Faz seu pedido e ao invés de ir a uma mesa recosta-se no balcão e fala:
- Noite fraca. Não há perspectiva de mais gente não?
- Infelizmente na segunda feira é isso aí mesmo.
Então ela silenciou, foi para uma mesa distante e pos-se a me olhar. E o interessante foi que não conseguia mais fazer nada direito, tão preso estava. Derrubava garrafas, confundia pedidos, errava nomes, um absurdo. Irritado, pedi 15 minutos de descanso eu fui até ela:
- O que você quer de mim afinal?
- Você nem imagina?
- ZÉ! Aguenta o tranco aí que antes das seis eu tô de volta!
- Sem problema, hoje é segunda mesmo!
Entramos em meu carro e tracei rota para o motel mais próximo. Ela me disse que conhecia um lugar melhor e me guiou a um barranco, com uma bela visão da lua. Beijei-a longamente e enquanto a beijava sentia um estranho torpor tomar conta de mim. Ela então beijou meu pescoço e o agradável arrepio inicial tornou-se dor e despertou-me a realidade. Tarde demais. Sangrando, fraco demais e ainda sem entender muita coisa tentei sair do carro, já fechado, mas era impossível. fraco e envenenado apenas ouvi um riso e a explosão do carro ao bater de encontro às pedras...

sexta-feira, setembro 05, 2003

Halleluiah


Ia eu seguindo a minha vida calmamente quando tive o desprazer de te conhecer. Deus, você conseguia ser irritantemente teimosa; uma verdadeira porta. Não havia absolutamente nada que fizesse com que nos entendessemos sobre qualquer assunto, por mais banal que o mesmo pudesse ser. Ainda assim resolvemos namorar. Loucura, numa definição mais atual e madura, era a definição de nossa relação. Não havia consenso jamais, as briga eram intemináveis e ninguém, absolutamente ninguém, conseguia entender como diabos podíamos estar juntos há tanto tempo. Mas hava o nosso segredo.
A cama; o único lugar onde a paz imperava. Paz, na verade, era um mero eufemismo; nos amávamos como loucos. Cada transa era intensa e quente como se fosse a última; nenhum de nós dois conhecia limites e muito menos vergonha. Posso ainda sentir, às vezes, os orgasmos intensos que compartilhávamos. Sim, essa era a hora da trégua e quando traçávamos nossos planos.
Ninguém sabia, até agora, de nossa atividade secreta. Saímos na madrugada, trajando negro, a assasinar mendigos e indigentes que não fariam falta nenhuma à sociedade. Os esfaqueávamos muitas vezes e lavávamos o corpo à praia, para que os caranguejos se encarregassem da "limpeza". Ao nascer do sol costumávamos nos amar.
Nossa vida consistia em um casal histérico de dia e em amantes e bebedores de sangue a noite. Éramos felizes, até sermos pegos. A maldita filha de um mendingo escapou e nos denunciou. Você, impetuosa como sempre, não quis se entragar e acabou sendo morta a tiros.
Eu hoje fico aqui, entre as grades a me lembrar e a paquerar a namorada do meu colega de cela, que vem vê-lo semanalmate.

quinta-feira, agosto 21, 2003

It´s only words


Sempre me achei bom com as palavras. Sempre tive facilidade para dominá-las e transformá-las em contos, cartas, poemas, canções. Mas hoje, após lembrar-me em detalhes de todo o ocorrido ontem, sinto como se meu teclado fosse composto de animais selvagens, cada qual mais perigoso que o outro, e todos dispostos a devorar-me as pontas dos dedos.
Não consigo mais compor absolutamente nada. Não consigo sequer rimar amor com dor. Tudo porque você fez o que fez.
Sempre foste minha musa inspiradora; aquela que me incentivava a escrever e sempre criar, criar e criar. Nunca exigi nada de ti, apenas a tua presença. Era livre pare ter quem quiseres e fazer tua vida como bem entendesse. Eu exigia apenas tua presença ao meu lado, a noite, quando eu resolvia criar.
Mas você se apaixonou. E não mais vinha a mim. Deixava-me só, abandonado e o pior, sem idéias!
Comecei a lhe seguir, apenas para ver porque me abandonaste. Bisbilhotava tuas noites de paixão insaciável, teus encontros furtivos, tua felicidade exaltante. E tomado pela inveja, agi sem pensar. Facadas, incontáveis, para por fim à sua vida.
Hoje, apesar das lágrimas, ainda levo minha boa vida. E achei um novo brinquado que me entende e sempre está do meu lado. Um brinquedo feito em prata e afiado como meus escritos.

quarta-feira, agosto 20, 2003

Under pressure


E ali estava eu, parado, olhando para o quadro. Minha última lembrança de você; o último halo de luz sobre a minha atormentada alma. O quadro que transmitia toda a paz que sua presença emanava ao meu lado. O quadro que me fazia lembrar dos momentos vividos e das alegrias divididas; assim como as lágrimas derramadas em conjunto e tantas outras coisas que vivi desde o dia em que chegaste à minha vida.
Você apareceu, sem avisar. Como uma garoa fina que de repente se transforma em um verdadeiro dilúvio, que foi capaz de arrebatar meu coração, minha mente e tantas outras coisas.
Foi inevitável que nos tornássemos um tão cedo. Tudo passou a ser dividido, não havia você sem mim e nem eu sem você. Nada fazia sentido quando você não estava por perto.
Sob sua influência, comecei a pintar. Obras no começo péssimas, mas que ante seus elogios e incentivos foram melhorando significativamente, até se tornarem nosso hobby. Meu e seu sim; pois nas raras vezes em que se valia de um pincel, tu eras capaz de me brindar com obras magníficas. Como a que admiro aqui, agora, a chorar.
Deus, foram tantas coisas vividas, momentos maravilhosos, incontáveis presentes e coisas que realmente jamais esquecerei. Até aquele maldito dia. O dia em que ela chegou...
Uma simples cortesã, uma empregada. Com o péssimo hábito de sumir com pequenas coisas, não como uma cleptomaníaca, mas sim por um egoísmo vil e sem sentido.
De começo não liguei. Achava que minha amada estava com ciúmes. Até o dia qm que meu relógio de ouro sumiu. Aí sim, eu acordei para a a verdade!
Procurei, procurei e nada. Interroguei a empregada e obtive uma confissão tão bem interpretada que quae tive pena. Não, não deixaria aquilo continuar e a expulsei. Ledo engano.
Exatos sete dias depois, minha casa é invadida, minha amada é morta, e sou espancadao até quase a morte. Então, em meu último suspiro, eu a vejo:
- Sua pena será maior, e pior que a morte. Apenas feche seus olhos.
A dor, o mundo a girar, apago. Longas horas depois, abandonado em casa, observo o corpo de minha amada ao meu lado. Ela jaz em paz, com um sorriso. Sou tomado por uma sede inexplicável, que me consome sem piedade. Não há água suficiente no mundo para aplacá-la. Só muito tempo depois aprendi tudo o que precisava saber sobre a sede, a dor e as fraquezas.
E hoje, no seu aniversário meu amor, ao lado do último presente que me desde, decido por fim a tudo. Apenas aguardo o sol surgir e inundar a sala, levando-me para junto ti. Pois pior que a maldita sede é apenas a dor causada pela saudade.

quinta-feira, agosto 14, 2003

Liberi fatali


Divagava embaixo de uma árvore, apreciando a fina chuva que caía. Lembrava-se da infância e de bons momentos vividos no passado. Comia as maçãs que trouxera enquanto esperava a chegada de seu amor. Saboreava a fruta, comparando-a com o gosto dos lábios de sua querida. Nada poderia afastar seus pensamentos de sua amada, enquanto ela não chegasse.
Ela despontou por sobre a colina e enxergou-o sentado, a esperar. Lembrava-se de quando o conheceu, do amor à primeira vista e das lindas noites passadas juntos. E torturava-se por que sabia que aquele seria seu último encontro. Precisava alimentar-se.
O maldito castigo depositado sobre Aya fazia com que não pudesse se apaixonar, pois lhe era necessário o sangue para que se mantivesse viva. Por quantas vezes Aya amaldiçoou aquele que a pusera naquele estado; e quantas vezes abençoara o dia em que o viu pregado nas estacas de seu pobre castelo. Desde então ela tem suportado a fome ao limite, sofrendo por cada um que perde a vida para saciá-la. E hoje, infelizmente, é o dia de Jonas.
Jonas apenas observa a chegada de seu amor. Seus olhos brilham enquanto ela se aproxima e ele se levanta e corre, na fina garoa, em direção ao seu amor. O beijo trocado por ambos é ardente, cálido, tão íntimo que é impossível a ambos resistir ao desejo. Os dois se amam ali, na chuva, em uma floresta deserta. E esse amor sela a piedade de Aya, que decide suportar a fome e viver seu amor intensamente, mas sem impôr a Jonas o seu pesadíssimo fardo:
- Jonas, meu amor, eu tenho um segredo para te contar.
- O engraçado é que eu também. Mas fale-me o seu primeiro.
E Aya contou a Jonas toda a sua história, sua verdadeira idade, suas antigas vítimas e todos os motivos que a levaram a não querer que Jonas partilhasse de seu destino:
- Agora me fale o seu segredo, se é que você ainda me ama.
- Meu segredo era um presente, espere aí.
Caminhou até detrás da macieira, aos prantos, pegou lá o revólver que guardara e atirou, seis vezes, em uma atônita Aya, que nem seguer reagiu ao ver Jonas cortar sua cabeça com uma espada. Suas últimas palavras foram:
- Pelo menos é tu quem vais me dar paz.
Aos prantos Jonas aponta a arma para a cabeça e, antes do sétimo e último tiro diz:
- Descanse em paz meu pai, agora vou acompanhá-lo e quem sabe, seexistir um Deus, ainda farei companhia ao meu amor aonde quer que ela esteja.

sexta-feira, agosto 08, 2003

Men at Work


Em sua mesa ele reflete sobre suas tarefas. Obrigações corriqueiras e um dia-a-dia fútil e sempre igual. A rotina domina sua vida com tal força que ele já nem sequer se lembra da sua última grande emoção. Tudo é tão igual e tão normal que ele aparenta estar todos os momentos movido pela alavanca de automático.
Amanhece; mais um dia, mais uma camisa branca, um par de meias negras, a cueca azul, uma gravata combinando com a calça e seu inseparável estojo de canetas. Nada diferente; o mesmo caminho, o mesmo sinal aberto... Um maluco cruzando a faixa, uma batida espetaular, que não estava nos planos.
Ele sobrevive, milagrosamente, assim como a mulher que atravassava a rua n momento do acidente. O proprietário do outro carro morre antes de ser retirado dos escombros. Ambos vão ao hospital e à delegacia, onde as conversas triviais sobre quem sofre o mesmo maç são inevitáveis:
- Pois é, escapamos de uma boa, hein?
- É... Meu cehefe deve estar maluco, mesmo depois de ter sido avisado.
- Não esquenta, empregos passam, a vida só pode ser vivida uma vez.
- Acho que você tem razão.
E assim trocaram nomes, telefones, combinaram de sair e começaram a levar um relacionamento agradável, onde ele a ensinava a ser séria e compenetrada, enquanto ela doava a ele consideráveis parcelas de irresponsabilidade e o ensinava a aproveitar melhor seus momentos.
Ele aprendera tão bem que trabalhava feliz, com um sorriso invejado e com uma produtividade assustadora. Todos perguntavam o segredo de seu sucesso e ele prontamente respondia:
- Equilíbrio.
A vida era boa, até o dia em que ele foi promovido a vice-presidente. Seus horários eram apertados, horas extras incontáveis e, por consequência, uma mulher infeliz. Infeliz a ponto de procurar felicidade em outro lugar. sua última declaração veio em um bilhete:
" A balança pendeu demais para você e o prato entornou. Fique com seu maldito dinheiro porque eu vou tratar de ser feliz. Até nunca mais!"
Após isso resolveu mergulhar no trabalho a fim de livrar-se do vazio. Mas não produzia como antes, era desatento e não cumpria mais prazos, por mais elásticos que esses fossem. O inevitável ocorreu:
- Max, você está demitido.
- Mas você não pode fazer isso! Eu sacrifiquei tudo por essa empresa. Eu dei meu sangue.
- Eu sei Max, mas você já não rende como antes, você parece estar desiquilibrado.
- EQUILÍBRIO??? EQUILÍBRIO??? Quem é você para me falar sobre isso, seu maldito!!!!
Um movimento rápido e Max abria o peito de seu chefe com um abridor de envelopes. Sete golpes e a consciência recuperada, mas em pandarecos pelo ato desumano que cometera, resolveu então tomar a mais drástica das atitudes.
Enquanto seu corpo voava do décimo terceiro andar até o chão Max lembrava-se dos períodos felizes ao lado de sua amada e das coisas boas que ala lhe trouxera. Agora era tarde demais e antes de atingir o chão Max apenas viu a imagem de uma balança; enferrujada, destruída, com apenas um prato só, no qual estava seu coração...
Conhecendo o autor

Esse cara é meu ídolo, e já dá de cara pra sacar porque!!! Quem tem Winmx ou outra peer to peer, procure por "MATADOR DE PASSARINHOS", que também é sensacional


Rogério Skylab; Convento das Carmelitas

No Convento das Carmelitas eu entrei.
Esperei uma freira passar, esperei, esperei.
A primeira freira que passou, estrangulei.
Eu não gosto de freira, eu não gosto de frei.

No Convento das Carmelitas eu entrei.
Esperei outra freira passar, esperei, esperei.
A segunda freira que passou, estrangulei.
Eu não gosto de freira, eu não gosto de frei.

No Convento das Carmelitas eu entrei.
Esperei outra freira passar, esperei, esperei.
A terceira freira que passou, estrangulei.
Eu não gosto de freira, eu não gosto de frei.

No Convento das Carmelitas eu entrei.
Esperei outra freira passar, esperei, esperei.
A quarta freira que passou, estrangulei.
Eu não gosto de freira, eu não gosto de frei.

No Convento das Carmelitas eu entrei.
Esperei outra freira passar, esperei, esperei.
A quinta freira que passou, estrangulei.
Eu não gosto de freira, eu não gosto de frei.

No Convento das Carmelitas eu entrei.
Esperei outra freira passar, esperei, esperei.
A sexta freira que passou, estrangulei.
Os dias e as mortes em série me fazem tão bem.

P.s - Já que a minha vida está em jogo, vou fazer um conto pra hoje ainda!

quarta-feira, agosto 06, 2003

Washing away the sorrow


E em frente ao piano ele refletia sobre os últimos momentos. Não se lembrava como havia chegado até aquele lugar; sua última lembrança era o campo. O campo chuvoso, onde o céu derramava lágrimas de tristeza e trovões de fúria. Um raio, a árvore e ali estava. Sentado em frente a um piano, uma platéia e a mente limpa e tranquila.
Tocava o Minueto em Sol Maior, a única obra que fazia questão de saber de cor. Ao término foi ovacionado; e enquanto recebia os aplausos, sua mente viajava. Viajava até as primeiras aulas, aos 6 anos de idade, com sua companheira de folguedos Marie e a velha Marguerite como professora. A velha costumava ser muito exigente, mas a persevarença de ambos fez com que se equiparassem e se tornassem virtuoses em alguns anos.
Cresceram juntos e a paixão floresceu como era inevitável. Casaram-se e tiveram uma vida feliz, apesar de sem filhos. Até o dia do maldito acidente. Uma capotagem fenomenal por culpa de um embriagado que atravessara uma preferencial. Quis o caprichoso destino que apenas ele sobrevivesse para ouvir as últimas palavras de sua amada:
- Toque para que eu me vá em paz, por favor.
A peça executada no enterro era de beleza incomparável, porém foi a última. Tomado por um ódio descomunal ele queimou seu Fritz Dobbert e nunca mais quis saber de música em sua vida.
Após a longa viagem ao passado percebeu que aindo o aplaudiam, esfusiantemente, e dentre as pessoas uma mulher, de beleza áurea destacava-se entre a multidão de negro:
- Marie, é você?
- Por favor, apenas toque o Requién para que eu me vá em paz.
- Mas eu não me lembro mais, eu queimei as partituras e fiz questão de esquecer a canção!
- VOCÊ ESQUECEU A MINHA CANÇÃO?? COMO EU VOU DESCANSAR?
- Mas do que você está falando, meu bem?
Vã pergunta, o lindo teatro desfez-se; e um campo, fétido e tomado por osso começa a tomar forma, os bancos de mogno puro transformam-se em pedaços de couro dispostos de maneira grotesca e o público bem trajado revela ser niguém menos do que pessoas apodrecidas por uma morte sofrida e talvez precoce.
Marie, agora nada além de trapos de um vestido branco sobre carne putrefata avança sobre seu amado e começa a estrangular-lhe. Ele, sem nada compreender, apenas pode perguntar:
- Por quê?
- Eu esperei durante vinte malditos anos nesse lugar, prometendo para quem manda aqui que quando você chegasse traria música e paz para todos esses atormentados e você me comete o disparate de abandonar nosso sonho?
Ele não pôde ouvir as últimas de sua amada, pois seu último fio de vida esvaiu-se do corpo. Agora ela era apenas mais um entre os condenados a esperar...

terça-feira, agosto 05, 2003

Só um tempinho!!!


Recebi agora a pouco uma notícia bombástica e que me abalou demais, então talvez demore um pouco para eu me recuperar e escrever algo que preste de novo!!! Sorry.

quinta-feira, julho 31, 2003

I don´t practice Santeria


Levava uma vida corriqueira, sem grandes emoções e com um trabalho razoável; não havia motivos para reclamar de nada e podia considerar-me feliz. Até o dia em que aquele homem apareceu.
Um homem velho, calmo, uma barba branca enorme, portava um violão e um cajado. Interpelou-me quem eu era, onde vivia e outras coisas fúteis. Resolvi desconversar:
- Escuta velho, pega esses 10 tostões e desaparece da minha frente! Vai comer alguma coisa, encher a cara, sei lá! Mas pelo amor de Deus, toma um banho!
- O senhor é caridoso e de bom coração. Aparenta ser digno da missão.
- Missão, que histó...
Uma pancada na cabeça, desmaio. Acordo em um quarto, minúsculo, fétido. Com estranhos desenhos na parede e ouço o velho recitando palavras em uma língua desconhecida enquanto tocava seu violão. As palavras fluem em minha mente e caio novamente no sono.
Desperto em minha mesa, trabalhando normalmente e com a sensação de que tudo não passou de um sonho ruim. Meu chefe chega:
- Stephen, o relatório de produtividade é para amanhã! E urgente!
- Sem problemas chefe! Está quase pronto!
- Você tem até as nove, até porque só estamos nós aqui agora!
- Vai estar na sua mesa.
- Como você obedece a essa besta maldita? Você não vê o que ele faz? você precisa exterminá-lo!
- Quem disse isso?
- Não grite! Você não pode me ver. Eu estou dentro de você, fui imputada em você
Imediatamente lembrei-me dos últimos acontecimentos. Velho miserável! O que você quer de mim voz?
Apenas Justiça!
- Isso é loucura!
Loucura é negar a minha vontade!
Novamente a canção entoada naquela língua maldita! Minha cabeça gira, meus pensamentos enroscam-se e apenas o cheiro e o desejo de sangue me povoam! Invado a sala do homem. Sete golpes com um abridor de envelopes e estou imundo de sangue. Mas a Voz parece ter me abandoado. Agora é esconder o corpo.
Inexperiente, não cubro bem meus rastros e sou preso em tempo recorde. Confesso tudo e agora estou aqui, entre essas grades, isolado e tratado como um animal. Meu único contato com um ser humano é quando me trazem comida, na troca da guarda:
- Aqui está sua comida.
- Ei! Você é novo aqui! Aliás, você não está meio velho para ser guarda não?
- Vai dizer que não reconhece um velho amigo?
Novamente o mundo começa a girar mais rápido, tudo escurece e, ao me levantar, a cela está aberta e uma única palavra brota de minha boca:
- Justiça

terça-feira, julho 29, 2003

Friday, I´m in love


Mais um dia, mais trabalho, mais provoações eu uma novidade. Um convite; aniversário de meu chefe, aquela mala sem alça e sem rodinhas. Decididamente não vou, a menos que:
- Amelie, você vai na festa do Chefe?
- Vou, sim! Você vai?
- Não perderia ver você sem uniforme por nada!
- Então até a noite!
- Até!
Fim do dia, volto para casa. Milhares de preparativos. Banho, barba, bigode, cabelo, terno; tudo tem de estar perfeito para que a minha bela Amelie tenha orgulho de mim. Tantos detalhes que saio atrasado.
Chego, encontro todos já altos pela bebida. As conversas seguem altas, incômodas, sobre assuntos idiotas; concentro-me apenas em conversar com Amelie, que bebe um pouco mais do que deveria:
- Escuta Dartagnan! A minha música!
Amelie corre ao centro do salão e começa a dançar; freneticamente. Seu corpo, etilizado, gira no próprio eixo em êxtase e, tomada pelos acordes, minha duesa começa a se despir. Todos olham atônitos e lançam gritos de viva. Eu, embasbacado, me recuso a acreditar. A minha Amelie! dançando e se despindo como uma vagabunda; se esfregando no meu maldito chefe! Não, não posso suportar essa cena! Preciso tomar uma atitude.
Corro à mesa e tomo da faca mais afiada que encontro. Pulo sobre meu chefe e com três golpes dou cabo de sua vida miserável. Pulam sobre mim e tentam me dominar; mas ágil como um gato me livro dos outros quatro e ainda deixo a faca cravada no peito de um. Os outros dois fogem, em pânico, gritando. Amelie me olha sem esntender nada e temendo por sua vida:
- O que você vai fazer comigo? Por que essa faca? Por que você matou os outros?
- A vida deles nada valia perto da sua. Eles aproveitaram-se porque você estava bêbada. Eu te salvei desse malditos! Me beije meu amor.
- Não Dart, você perdeu o controle...
- Me beija! Ou quer acabar como eles?
- Está bem, fecha os olhos...
Os lábios de Amelie tocam os meus, suaves, quentes, apaixonados. Sua língua percorre a minha boca excitando-me. Ela me aperta. Então; uma pontada nas costas, o susto e o gosto de sangue...
- Por que isso? Você disse que me amava...
- Eu? Amar uma vagabunda que se esfrega nos outros só porque bebeu um ou outro gole? Não... Eu jamais poderia amar alguém assim. Agora morra e me deixe em paz.

quinta-feira, julho 24, 2003

O ministério da Saúde adverte



Adoro a sensação dos pulmões quentes pelo cigarro. O gosto na boca não me incomoda nem um pouco. Posso admitir que sou um inveterado sem salvação. Aliás, é assim que a minha eposa me trata.
- E aí viciado? Morrendo mais um pouquinho hoje?
- Mulher, cala essa boca ou eu ainda faço uma cagada!
- Ó... Eu estou tremendo de medo!
- Ah! Vai se fuder e não me enche!
Saio, para evitar um briga maior e para poder comprar mais quatro carteiras, ou não vou ter o que fumar amanhã. Pra ajudar o filho da puta da mercearia diz que não tem mais da marca que eu fumo. O negócio é voltar pra casa e pegar do "estoque de emergência".
Chego e corro, literalmente, à gaveta. Nada, nem um mísero cigarro.
- Mulher! Cadê meu estoque de cigarros?
- Joguei fora! Já falei que você tem de parar de fumar ou vai acabar morrendo.
- Morrendo o caralho sua vagabunda!
Corro em direção a ela que, assustada, nem sequer reage. Um soco, dois, três, mais, mais, mais. Uma faca. uma, duas, sete facadas e meu corpo está cheio, satisfeito. Continuo a perfurá-la até recobrar a sanidade.
Recuperado, olho para o corpo inerte de minha esposa. Rapidamente descubro o que fazer. Emparedo-a no trecho que estávamos aumentando da casa junto com uma mala e algumas roupas. escrevo um bilhete de despedida (falsificar letras e assinaturas sempre foi um dom nato) e finjo ser abandonado. A polícia nem se dá ao trabalho de me procurar e com alguns telefonemas livro-me de quem poderia incomodar.
Resolvo sair, levando comigo minha bela faca. No caminho encontro uma prostituda:
- E aí bonitão? Vamos?
- Depende. Você fuma?
- Não! Odeio cigarros!
- Que ótimo. eu também. Meu vício é outro.
E, colado ao meu corpo, o aço frio da faca me arrepia e excita...

quinta-feira, julho 17, 2003

Everybody hurts


O telefone tocou. Era você, desesperada para falar comigo. Dizia me amar, jurava ser outra pessoa, fazer as minhas vontades, até realizar as minhas fantasias. Mas não, eu não podia mais suportar a idéia de olhar em seus olhos e me recortar daquele maldito dia. Não havia mais esperança para a nossa relaçao. Deus, como eu pude permitir aquilo?
Era um domingo, ensolarado, e estávamos sentados ma grama do parque; namorando e sendo felizes. Imaginávamos como seria a nossa vida a dois, o nome do cachorro e outras futilidades. Íamos para casa quando me convidou para irmos ao seu "lugar secreto". Não relutei e lá fomos nós.
Já assustou-me a nossa chegada ao cemitério. Mais apavorado ainda fiquei quando tu abriste um mausoléu, e Deus, não há como descrever meu assombro diante das fotos de assassinos e de corpos mutilados expostas naquele lugar. Fugi; corri como o vento sem olhar pra trás, abandonando-te. Agora, me telefonas querendo meu amor. NUNCA!
Ainda nesse devaneio, desligo o telefone e resolvo sair para respirar. O ar da noite me fará bem. Ando sem rumo por entre becos quando encontro uma prostituta que me promete o paraíso. Nego.
Chego e o maldito telefone toca. É ela:
- Por favor, eu te amo. Não sou assasina, tenho apenas uma fascinação pela morte.
- Ok! Vou ser agnânimo só dessa vez. Venha até aqui.
- Mas é tarde...
- Você me ama ou não?
- Tá legal...
Em menos de uma hora ela chega, trazendo consigo uma faca. Me ataca, tentando tirar minha vida. Lutamos até eu desarmá-la. Derrubo-a no chão e transamos freneticamente, por horas. Exuasta, ela dorme.
Acordo-a então com um beijo:
- Amor, por que essa faca? A gente já brincou...
- Não. O jogo de verdade começa agora.
Uma, duas, três, cinco facadas certeiras, jatos de sangue quente lavam meu corpo e purificam minha alma. Saboreio o agridoce que jorra dos cortes. Arranco-lhe nacos de carne com os dentes. Sou um animal descontrolado.
Quando a cabeça volta ao lugar, deparo-me com 2 policias, chamados pela vaca do 1º andar. Algemado e espancado compreendo que devia ter matado a puta...
Back to square one again


Preciso correr, me esconder, fugir. Me seguem , gritam em desespero, me querem. Todos precisam de um pedaço de mim para continuarem suas vidas medíocres. O corredor onde estou afunila-se e já não há mais saída. Não sei o que fazer. Em uma atitude desesperada forço a porta e ela se abre. Continuo a correr por uma viela interminável, sentindo os tijolos e o salitre que me penetra os pulmões. Essas malditas catacumbas não terminam nunca e eles não desistem de me perseguir. Cansado, ofegante; continuo, desesperado, com um apego inacreditável à minha própria vida. Não quero dar aos malditos chance alguma de me alcançar.
Luz. Um halo infímo brota de uma rachadura no teto e é a minha esperança. Paro sobre o mesmo e com um pedaço de ferro achado no chão começo a perfurar o teto, alargando o pequeno facho e tornando aquele trecho de catacumba inundado pela luz do Sol.
As criaturas, em pânico, fogem aos gritos. Algumas, lentas demais, dissolvem-se ao contato com a luz. Ouço sua carne chiar ao derreter e sinto o cheiro da podridão que emana de seu corpo putrefato.
A salvo sob a luz, mas sem saída, descanso e procuro pensar em algo. Não há como escalar a parede e não posso voltar, pois sem luz sou uma presa fácil.
O tempo passa, o Sol começa a se pôr e eu a me lembrar de como fui parar naquele maldito lugar.
Um barulho, ou melhor, um urro indescritível me retorna à realidade. Vejo-os aguardando a extinção dos últimos vestígios de luz. Armo-me e aguardo; inutilmente. Os seres infernais cobrem-me e arrancam pedaços de minha carne para satisfazerem-se, sinto meus órgãos serem perfurados e minha carne rasgada. Não há escapatória.

quarta-feira, julho 16, 2003

Sorrow, just sorrow


Quisera eu ser um formador de opinião. Gostaria de poder falar de tudo com embasamento, de ser m entendido, um crítico-mor, respeitado e ouvido por meus pares. Gostaria de tecer teses e teorias sobre os mais variados assuntos e quem sabe assim ter um pouco de respeito das pessoas.
Aqui, no meu cúbiculo,ninguém me ouve, estão pouco se lixando para o que eu penso ou acho do mundo ou como eu dirijo a minha vida. É nesse lugar que dou minhas aulas.
Ah Deus! Lá vem outro sem talento querendo aprender meu ofício! Infelizmente vai ser mais um nas páginas de desaparecidos no jornal.

terça-feira, julho 15, 2003

Fugindo à regra


As vezes gostaria de ter todas as respostas. Poder ter a cereza absoluta de que agrado a ti. Gostaria de poder conhecer cada pensamento seu e assim jamais te magoar ou mesmo decepcionar-te. Queria ser aquele que você sempre sonhou, o homem perfeito que lhe traria felicidade. Que imputaria sorrisos em sua face sem o menor esforço. Mas, infelizmente não posso. Então só me resta uma coisa a fazer:
- Mas eu te amo!
- Você me ama, mas eu não mereço seu amor. Você deve ser feliz em outro lugar. Adeus.
- NÃO!!
- BAM! BAM! BAM! E lá vou eu atrás de outra namorada.

quinta-feira, julho 10, 2003

Um apócrifo!


E do alto do paraíso, em uma janela, Deus se diverte atirando de Sniper nos desavisados.

terça-feira, julho 08, 2003

Heeding the phone call


Trabalhava como voluntário no CVV, atendia telefonemas de pessoas podres que queriam se matar por motivos às vezes mais podres ainda. Já tinha ouvido de tudo, desde o palhaço que tentara tirar a vida por esquecer uma piada ao menino que queria se matar por que cancelaram o último capítulo de seu herói favorito.
No começo achava aquilo uma demonstração de altruísmo inenarrável e por isso trabalhava com prazer. Mas o tempo foi passando e aqueles lamentos começaram a perecer-lhe sem razão e pior, idiotas ao extremo. Decidiu mandar tudo às favas. E para isso usaria do bom e velho sarcasmo.
Dia de trabalho e o telefone começa cedo:
- CVV, bom dia!
- Eu estou em desespero, ela me abandonou e eu não quero mais viver.
- Quem te abandonou? Tua namorada? Esposa?
- Foi o meu homem, ele fugiu com outro e eu estou desolado...
- Ah!! VAI A PUTA QUE PARIU!!! Enfia uma bala na testa ou então sai atrás de uma mulher sua bichona escrota.
tu, tu, tu...
Há tempos não se sentia tão bem. Estava começando a gostar daquilo.
- CVV!
- Com quem eu falo?
- Com o faxineiro! O cara que atende essa josta se matou....
tu, tu, tu...
Ria a não poder....
- Alô.
- Oi. Eu liguei porque estou sentindo vontade de matar algúem.
- Sério? Quem?
- É o meu namorado que ficou maluco. Ninguém aguenta mais ele.
- Pois então vai fundo! É um doido a menos no mundo.
- Mas é que ele é legal e eu acho que ele tem cura.
- Tem nada Moça! Doido bom é doido morto!
- Se você diz. Valeu!
- Não tem de quê!
Passaram-se alguns minutos quando o telefone tocou. Atendeu!
- CVV! (Nisso tocam-lhe as costas)
BAM! BAM! Dois tiros enquanto se virava para ver quem o chamara. Uma poça de sangue. Uma mulher chorando e o telefone...
tu, tu, tu...

segunda-feira, julho 07, 2003

Um pequeno intervalo


As idéias têm por hábito me abandonar às vezes. Posso espremer meu cérebro o quanto quiser que não consigo arrancar nada de satisfatório. Hoje é um desses dias. Nada que eu escreva, fale ou imagine consegue agradar ao meu afiado senso crítico. É como se eu fosse lobotomizado e tivesse de reaprender tudo de novo, como uma criança de 2 anos.
O chato disso é a total ausência da imaginação. É "olhar pedra e ver pedra" como diz a Cecília Meireles. E eu, tido pelos amigos como o maior viajandão de todos os tempos pelos amigos acabo passando por insuportável, ou por "estar naqueles dias". Mas como eu sempre digo, WHATEVER! Eu sei que a crise é passageira e como na terça eu tenho agendado um mergulho em mim mesmo tudo voltará ao normal, talvez até mais rápido do que eu penso, porque essa vaigem toda deu uma bela fervilhada nos neurônios.
Só pra constar: A audiência tem sido maravilhosa, e se ninguém comenta é porque os contos devem estar no mínimo meia-bunda, então só posso agradecer!!!

quinta-feira, julho 03, 2003

Are you sure you´re at the right side?


Em meio ao campo de batalha ele foi o mais condecorado. Uma máquina, que aniquiliava seus inimigos sem piedade. Não havia espaço em seu coração para qualqur demosntração de fraqueza. Sua única meta era vencer a guerra, nem que para isso tivesse de abandonar todos os seus escrúpulos. E foi o que fez.
Retornara como herói; homenageado e festejado. Os louros da batalha eram dedicados por muitos a ele. Mas durante aquele tempo insano uma semente foi plantada. Essa veio a germinar e gerou um fruto podre.
O soldado levava sua vida normalmente, mas suas atitudes já não eram mais as mesmas. Ele ouvia vozes onde não existia ninguém, via conspirações inexistentes, o inimigo estava sempre à espreita para acabar com sua vida. Foi, obviamente, internado como louco, paranóico, esquizofrênico.
Não se livrava das vozes e dos pesadelos e planejava escapar daquele lugar, pois era o inimigo mantendo-o sob custódia. Arquitetou planos e mais planos até conseguir escapar.
Ao sair, arrombou uma loja de armas e deu início a maior de todas as matanças noticiadas. Mulheres, velhos, crianças; todos os que cruzassem o seu caminho eram sumariamente executados. A própria polícia não conseguia pará-lo, pois ele matava e se escondia.
Um dia encontraram seu corpo. Havia se suicidado; tiro na cabeça. Ao lado do corpo um bilhete:
"Nego-me a lutar por um país que mente para declarar guerra."

quarta-feira, julho 02, 2003

Just give me a chance


Vagava por entre os transeuntes sentindo cheiro de sangue. Procurava mais uma vítima para saciar seu ímpeto assassino. Procurava por alguém inocente e desprotegido. Alguém em quem pudesse descontar todo o seu ódio. Vagou, vagou até encontrar.
- Oi garotão! Que tal uminha?
- Achei que não ia pedir.
Foram a um motel vagabundo onde fizeram um pouco de tudo. Cansado da jornada de sexo resolveu cochilar antes de acabar o serviço. Ledo engano!
Acordou, ouvindo o chuveiro ligado. Vestiu-se, levantou-se e procurou sua arma. Não a encontrou. Ao procurá-la ouviu chamarem-lhe:
- Você não quer aproveitar a água, está ótima!
Tentado por mais alguns momentos de prazer entrou no banheiro. Mal abriu a porta ouviu:
BAM! BAM! BAM! Tombou morto enquanto a mulher ria desenfreadamente:
Sentia-se saciada por hora. Mas sabia que teria de matar outro policial dentro em breve.
Those who rule Dragons


E lá vai Fausto para mais um dia no trabalho. Stress, tensão, chefe malcriado e uma secretária incompetente. Não aguentava mais aquela maldita rotina; precisava de paz.
Um dia, num acesso de raiva pediu suas contas e decidiu realizar sua maior vontade. Ser músico!
Dedicou-se de corpo e alma por alguns anos, até atingir um nivel bom. Contratou alguns músicos, torrou toda sua grana, mas gravou um CD. CD esse que num primeiro momento vendeu horrores. Fausto, agora com os Land Dwellers, era um fenômeno. Suas cançoes, que retratavam nada mais que sua própria dor, eram tidas como hinos dentre os seus já milhares de fãs.
Fausto amava aquela vida. Era tudo o que ele sempre quis ter. O poder que exercia era algo tão absurdo que nem emsmo ele era capaz de acreditar. Em sua cama chegava a ter até quatro mulheres de uma vez.
Mas, como nada dura para sempre, os fãs começaram a abandoná-lo. Sua música não mais tocava, as pessoas se esqueceram de suas mensagens, não havia mulheres ele mal ganhava para comer. A desgraça sobreveio quando os Land Dwellers o abandonaram e gravaram um Cd sem lhe avisar. Huimlhado e sem ninguém tomou a atitude mais deseperadora de todas:
- Chefe. Tem como o senhor me acitar de volta?


Update: PUTA QUE PARIU! Que coisa ruim! Não vou deletar porque teve quem já leu,mas vou tentar criar algo que preste!!

terça-feira, julho 01, 2003

Is that a crime?


Ele era o último sobrevivente. Tudo acabara por intermédio de uma pequena "experiêincia" nuclear de seu presidente. Sua cidade agora não era nada além de escombros; e seus habitantes não passavam de cadáveres. Sabia que não viriam buscá-lo, pois a localização da cidade era um segredo militar.
Agora sabia porque ganhava tanto e trabalhava tão pouco.
Vagava sozinho procurando por comida e companhia. Não encontrou a ambos. A fome o atormentava e viu-se obrigado a caçar pequenos animais como ratos s baratas para comer.
Durante muito tempo sofreu com essa sobre-vida, mas acabou acostumando-se. Porém, trágica consequência, tornara-se algo equivalente a um farrapo humano.
Um dia, e sempre chega um dia, encontraram-lhe. Por acidente um casal chegou à cidade e o avistou. Devorava um rato, sem assá-lo ou qualquer outro preparativo, apenas o mordia comuma selvageria idescritível. Tomado por um misto de nojo e piedade chamaram-lhe:
- Ei! Você! O que você está fazendo? Há quanto tempo está aqui?
O Selvagem parou o que estava fazendo, guardou sua "refeição" e dirigiu-se ao casal. Agia como um cão, cheirando, prescutando desconfiado.
Estacou em frente à bela moça e cheirou-lhe a mão, puxou-lhe os cabelos e abriu-lhe um sorriso. Rosnou para o rapaz, mas pareceu de confiança. Levou-lhes ao seu lar, onde fizeram uma fogueira para passar a noite.
Enquanto dormia, a moça sonhava com fama e fortuna, mas foi acordada por algo frio que lhe tocava. Abriu os olhos e viu seu namorado degolado e o Selvagem sujo de sangue. Levantou-se e tentou correr. Inúteis sete passos antes de ser perfurada por uma lança, tombar e ouvir um urro dizendo:
- CARNE!!! CARNE FRESCA!!!

segunda-feira, junho 30, 2003

Lay down in Neverland


Eu ouço. Mas não como todo mundo ouve. A mim é permitido prescutar os segredos mais profundos de alguém. Eu ouço PENSAMENTOS. Nada pode ser escondido de mim, basta uma pergunta bem formulada.
Esse dom, que muito interpretam como benção, é para mim nada mais do que um fardo, algo que tenho de carregar com dificuldade e sofrimento.
As malditas pessoas têm por hábito serem todas iguais. Escondem seus sentimentos e nunca, em hipótese alguma, revelam sua real opinião, a não ser que isso lhes seja extremamente interessante.
Em razão disso; me isolei do mundo. Não falo com ninguém, não saio de casa e compro tudo pela Internet. A Internet aliás tem sido uma excelente ferramenta. Através dela posso conversar calmamente com alguém sem me preocupar; enfim, ser normal.
Pela Net conheci Seraph, uma moça que se descrevia como não tão bonita, mas simpática. Me contava de tudo e mais um pouco, além de me encher de perguntas. Eu, é claro, evitava um envolvimento mais profundo, mas Seraph me conquistou de tal modo que resolvi testá-la pedindo que viesse à minha casa.
Ela concordou e na noite seguinte ao pedido estava em minha casa. Ela era linda. cabelos brancos, lisos, enormes. Olhos verdes como o mar e um sorriso indescritível. Cumprimentou-me com um beijo longo e demorado. Começamos a conversar.
Por um estranho milagre Seraph era sincera EM TODAS as suas palavras, fossem de agrado a mim ou desagravo à falta de açúcar de meu café. Aquilo definitivamente encerrara qualquer teste.
Nos amamos muito aquela noite e qual minha surpresa ao perceber que ela veraddeiramente me elogiara. Deus, como eu era feliz.
Seraph rapidament ese mudou para minha casa e tivemos os melhores três meses de nossas vidas, principalmente porque ela me permitia continuar em casa sem ver o mundo e nem me perguntava o porquê.
Um dia a tarde ao esperar Seraph chegar ouvi em frente à minha casa uma freada forte e um estrondo. Corri à janela e quase morri. Seraph jazia atropelada por um carro. Corri para fora em desespero e abracei seu corpo:
- Não! Por que você me abandonou? Deus! Por que você a levou? Só ela me entendia! Você! É tudo culpa sua!
- Quem? Eu? Eu não tive culpa, ela se jogou na frente do carro! ("Ainda bem que ninguém me viu furar a preferencial, senão estaria encrencado!")
- Seu maldito mentiroso! Eu SEI o que você fez! E você vai pagar!
Irado, tomei de um caco de vidro no chão e parti para cima daquele maldido. Matei-o! Mas fiquei gravemente ferido.
A ambulância que iria socorrer Seraph veio até mim juntamente com um policial que estava nas imediações e viera checar a confusão. Eu agonizava, não pelo ferimento, mas pela gritaria em minha mente. O turbilhão dos pensamentos em cada um era deveras alto e num fluxoi incontrolável. Num último ropmpante de consciência avancei sobre o policial, tomei-lhe a arma, desferi dois tiros ao alto e gritei:
- Silêncio!!!! O barulho aumentou ainda mais. Agora as mentes gritavam como uma revoada de pássaros ensandecidos. Aquilo era demias para mim. Eu não aguentava mais. Dirigi meu pensamento à Seraph, apontei a arma para a minha cabeça...
BAM!
Dream on, while you can


Cá estou novamente, em frente a uma tela branca, espremendo o cérebro em busca de uma idéia que satisfaça me ego crítico. Quando decidi ser publicitário não imaginava que slogans pudessem ser tão insuportavelmente difíceis de bolar. Esse da campanha anti-violência além de não me dar retorno em dinheiro é muito difícil de ser feito. Mas chato, chato mesmo, é aquele maldito produtor me cobrando. Deus, como alguém consegue ser tão néscio?
Telefone:
- Alô?
- Oi! Sou eu, já terminou?
- Já! Tenho uma idéia ótima!
- Qual?
- Me filmamos esmagando a sua cebça com a marreta e colocamos o Slogan: "Para evitar coisas como essas, previna a violência televisiva!"
- Gracinha! Além da idéia ser idiota é tão violenta quanto o que a gente pretende evitar. Vê sê trabalha direito e DE-PRES-SI-NHA!
- Ok, ok, tem como você dar uma passada aqui depois das oito e a gente discute isso?
- Ah Deus, eu sabia quie ia acabar tendo que fazer o teu trabalho, mas tudo bem...
Não aguentava mais. Estava com meu 38 na gaveta e apenas esperaria o momento certo.
Chega a noite, todos saem do escritório, finalmente. Logo após, como que pela mãe das coincidências, batem à porta. Só podia ser ele.
Vou à porta já de arma em punho, disposto a abrir e atirar. Mas quando me aproximo sou atingido por um objeto pesado que arrebenta a porta. Caio e meu algoz não para em nenhum momento de desferir golpes.
Segundos antes de expirar, ouço alguém gritar:
- CORTA! Essa vai pro ar e vai ficar beleza!!

sexta-feira, junho 27, 2003

We meet again


Sou boy. Odeio o Kid-vinil, mas sou boy e acordo as sete e meia, todo aquele papo ridículo. Não gosto muito desse trabalho mas às vezes passo por situações um tanto quanto pitorescas.
Fui entregar um aviso de cobrança à filha do dono da empresa que tinha uma estranha dívida: comprara 900 reais a prestação em um sex shop e agora estava sendo intimada a ressarcir essa tal dívida. É fácil imaginar como a minha libido estava ao encontrá-la. Pois bem.
Recepcionou-me uma verdadeira deusa. Cabelos longos e lisos, negros como a escuridão da noite. Olhos idem, profundos, capazes de desvendar qualquer segredo. E um corpo, um corpo que não pode ser definido por palavras:
- Boa tarde.
- B-b-oa t-tarde. E-eu vim entregar-lhe essa intimação a respeito de uma conta...
- Qual o valor?
- 1750 reais com juros de 15% ao dia.
- Nonssa! Tudo isso. Não há como você me dar um desconto? Ela se aproximou e eu senti que começava a suar frio:
- Vamos, entre e tome uma xícara de chá.
Nem reagi e quando vi estava lá, sentado e tremendo com um copo de chá na mão. O silêncio reinava absoluto quando ela me disse:
- Escutaqui!!! Você não gosta da fruta não?
- C-como?
Nem houve como terminar qualquer frase. Ao dar por mim estava amando aquele mulherão ali mesmo, na sala dela.
Deixei a intimação e prometi voltar mais a noite para um "serviço completo". Ela disse que me esperaria de uma maneira muito estranha:
- Eu vou esperar. Eu preciso que você volte.
Fiquei intrigado; mas a noite estava eu lá, com uma ereção monstruosa e pronto pra ação. Ela recebeu-me na porta, já nua e agarrou-me; começou a me amar e a repetir:
- Ah! Eu preciso de você, eu preciso de você para viver!
Não entendia aquilo até a hora em que ela me beijou na boca. Agarrou-me com força e eu comecei a me sentir fraco, muito fraco, cada vez mais fraco e só nos últimos instantes percebi meu corpo definhando, a carne quase tocando os ossos. Fraco, sem forças expirei.
No outro dia na empresa via-se um cartaz na porta: Precisa-se de boy para entrega de cobranças
I feel there´s nothing I can do


As vezes sinto como se toda a vida me abandonasse. Nada tem sentido e perco totalmente a vontade de me relacionar com o mundo. Hoje por exemplo estou aqui, plena sexta a noite e trancafiado em casa. Ouço meu radinho velho cacarejar:
- Venham até a Sombria, a mais nova casa noturna da cidade. Inaugurada recentemente em frente ao cemitério municipal na antiga casa dos Down.
Aquela propaganda mexeu comigo e retirou-me da minha letargia habitual. Resolvi encarar essa! Arrumei-me e fui até o tal lugar.
Chegando lá uma fila gigantesca para entrar já me dissuadia a dar meia-volta, mas, súbito, uma mão gelada toca meu ombro e me convida a segui-la. Vou e rapidamente estou dentro. Ela se apresenta com Emille e começa a fazer um questionário completo de minha vida. Encantado que estava respondo a todas as perguntas sem hesitar e ela elogia fervorosamente meu modo de vida isolado do mundo. Após dançarmos, conversarmos e nos divertirmos ela me convida a um lugar mais reservado. Imediatamente solto a pérola:
- Na minha casa ou na sua?
- Apenas siga-me meu anjo, porque eu conheço alguns ótimos lugares aqui dentro mesmo.
Driblamos a segurança e ela me levou até um quarto bonito bem decorado em estilo antigo. Começamos a nos acariciar e ela deitou-me na cama, vindo por cima de mim e pedindo que eu fechasse os olhos. Obedeci e senti minhas mãos sendo amarradas com delicados lenços de seda. Minha calça parecia estourar.
Ela então saiu de cima de mim e emitiu um grito agudo, horrível.
Imediatamente abri os olhos e vi mais duas pessoas, em roupas velhas roídas como que por traças que me olhavam de longe:
- Meus parabéns filha! Ele dará um ótimo genro...
- PERAÍ! Do que vocês estão falando?
- Eu não me disse meu nome completo meu anjo. Eu me chamo Emille Down e esses são meus pais.
As estranhas figuras se aproximaram e eu, horroizado pude visualizar que não havia carne em seus rostos e em nenhuma parte de seu corpo:
- O que vocês vão fazer? Vão me matar?
- Não! Não nos é permitido tirar uma vida, mas podemos ficar aqui assistindo você definhar até ficar como nós.
- NÃAAAAAAAAAAAAAAAAAAO!
- Calma meu amor... Agora você tem todo o tempo do mundo para dormir...

quinta-feira, junho 26, 2003

Reasons for me to find you


O tempo deixou de correr. Sinto como anos houvessem se passado. Não sei quando é dia, tarde, noite. Reajo apenas às indicações naturais de meu corpo como o sono, a sede e a fome. Fome; a mais brutal de todas as necessidades do ser humano; quase tão brutal quanto a do ar. A fome me arrasa e tem me consumido desde ontem quando o pouco estoque restante de minhas rações e de minha companheira acabaram.
Ela está morta. Não sobreviveu à queda da viga de sustentação da mina que viemos explorar. Fui mais rápido no salto e consegui me abrigar, mas ela; infelizmente se foi.
Como havíamos trazido comida suficiente consegui resistir por um tempo, mas agora; agora é impossível resistir à fome. Olho o corpo dela e meu cérebro é tomado por sensações alucinantes, como a de que gosto pode ter a carne humana e quão apetitosa parece a porção da coxa de minha parceira. NÃO! NÃO!!! Preciso resistir! Não farei isso! Jamais! Vou dormir para espantar a fome!
Adormeço e sonho com uma mesa farta. Massas, carnes, manjares; tudo em uma mesa enorme aonde um leitão assado ocupa lugar de destaque. Deixo tudo de lado e abocanho, como um animal, a suculenta coxa do leitão. Delicio-me e nem me atento ao fato de a carne ter um gosto de frango. Estou a devorar quando de súbito um barulho me tira do sonho:
- Pare! O que você pensa que está fazendo? Pelo amos de Deus ! Pare!
Não compreendi o que ele queria dizer com aquilo até olhar para as minhas mãos, ensanguentadas. Senti o gosto em minha boca e olhei para o corpo inerte de minha companheira. Faltavam vários nacos de sua carne na região da perna e da virília. Eu não sabia o que fazer:
- Vamos filho, o médico vai te examinar e você vai ficar um tempo com a psicóloga.
Deus! Eu não conseguia me perdoar pelo que havia acontecido! E aquela psicóloga ainda me fazendo perguntas,perguntas, perguntas... Não ageuntei a pressão e após algumas sessões acabei por esfaqueá-la.
Agora, com esse corpo aos meus pés e a polícia a caminho não páro de me perguntar:
- Que gosto será que ela tem?
Because nothing compares to you


Uma folha em branco, palavras na mente. Um lápis, um simples lápis e a transformação acontece. Idéias tomam cor, forma, conteúdo, vida. Amo meus lápis; adoro apontá-los, com faca, deixá-los sempre como novos, afiadíssimos e prontos para o uso. Com meus lápis eu posso conquistar o mundo. TOC TOC. A porta. Odeio ser interrompido:
- Pois não?
- O senhor gostaria de comprar esse maravilhoso apontador mega ultra plus detonator? Ele aponta lápis em segundos deixando-os novos e prontos para o uso!
- Não, obrigado!
- Mas senhor, um escritor como o senhor deve usar dezenas de lápis por dia! Por que perder tempo com lâminas ultrapassadas? Deixe-me demonstrar!
Arrancou-me o lápis que trazia na orelha e colocou-o no aparelho. Houve um barulho ensurdecedor e meu amado lápis foi quase aniquilado por aquela máquina demoníaca.
Não resisti. Saquei de outro lápis do bolso e ataquei-o. Tomado de fúria indomável perfurei seus olhos, garganta e só parei quando estavámos ambos no chão; eu sobre a poça de sangue formada olhando para um rosto perfurado e sem forma.
Como de praxe fui preso, julgado e condenado. Mas pelo menos na cadeia me deixam escrever meus contos.
O ruim é que eu ODEIO canetas!!!!

quarta-feira, junho 25, 2003

There´s nothing left here to remind me


Ela se foi. Não há mais alegria em meus dias e nada mais parece contentar-me. Nem mesmo a companhia de minha gata de estimação que tanto me aprazia consegue aplacar o sofrimento em meu peito. Perdi todo o ânimo e tenho apenas em minha mente o desejo da morte.
Minha gata, negra como a noite, tenta de todas as meneiras me animar; seja fazendo as brincadeiras de sempre seja inventando outras novas. Nada funciona.
Um dia, ao retornar do trabalho (um dia péssimo, diga-se de passagem), fui recebido por ela, mas mal-humorado com estava não medi meus atos e desferi-lhe um chute com tanta força que ela morreu imediatamente após bater contra a parede. Desandei em choro. Pedi desculpas, rezei, implorei. Nada adiantou. Perdi minha última companheira e nada mais restava.
Dirigi-me então ao tereno baldio mais próximo afim de enterrar minha amiga. Enquanto cavava sua cova culpava-me uma vez mais pela sua morte. Termino o serviço já com noite alta e volto até minha casa ainda chorando.Chego e vou direto à minha cama,onde tenho um sono conturbado e cheio de pesadelos.
Amanhece e o dia passa-se de forma lenta e tediosa, mas sem grandes acontecimentos.
Volto pra casa, assisto aos mesmos programas de sempre e vou para a cama. A noite ouço miados, muitos; como se cercassem a minha casa. Aquilo me irrita ainda mais e resolvo tomar uma atitude. Vou até a janela, de espingarda em punho, disparo quatro tiros a esmo e retorno sem sequer me importar com o resultado.
Com o silêncio adormeço, mas por pouco tempo. Repentinamente sou acordado por eles. Sim, os gatos, estavam em minha cama, milhares deles, subiam em cima de mim, me arranhavam, me mordiam e eu sentia a vida me abandonar aos poucos. So consegui me lembrar das primeiras palavras de minha esposa quando compramos a gata:
- Você sabia, amor, que as antigas bruxas se metamorfoseavam em gatos pretos?
É... Eu devia tê-la ouvido...
At first I was afraid


Era cantor. Falido, fracassado, de nenhum sucesso, mas um cantor. Não era ruim, apenas não soube agarrar a oportunidade quando ela surgiu. Peregrinava de cidade em cidade buscando emprego em casas noturnas decadentes ou mesmo em zonas de meretrício. Não conseguia estabelecer-se, pois era suficientemente ambicioso para nunca manter-se em um único lugar.
Em suas andanças chegou a uma cidade que nem sequer havia no mapa, Ternura. Caminhou pela pequena cidade e descobriu que esta possuía apenas um pequeno bar, de estado um tanto deplorável. Resolveu parar para tomar uma cerveja:
- Bom dia!
- Bom dia! O que deseja?
- Apenas uma cerveja bem gelada.
- Tá na mão!
- Escuta, você não sabe de uma cidade onde precisam de um cantor?
- CANTOR???? Você canta?
Inflado no ego, respondeu prontamente:
- Mas é claro, canto qualquer coisa!
Finalmente, nos ouviram! Venha comigo!
E foi levado diretamente ao prefeito e apresentado como o maior do mundo. Fizeram-lhe uma proposta irrecusável: 550 mil depositados em sua conta todo mês, para se apresentar de domingo a domingo na única casa da cidade como atração principal. Ganancioso como era aceitou sem cogitar e marcaram sua grande estréia para aquela noite.
Vestiram-lhe um terno brilhante, cortaram seu cabelo, maquiaram-no e fizeram todas as suas vontades. A noite levaram-lhe ao lugar combinado; uma maravilhosa casa montada atrás da prefeitura.
Foi aos bastidores e aguardou ser anunciado. Fizeram sua apresentação. Entrou no palco e viu apenas uma mesa com uma mulher sentada numa mesa com pouca luz e com o rosto coberto. Revoltou-se:
- Que palhaçada é essa? Vocês me prometem mundos e fundos e eu vou cantar só para uma pessoa? Nananinanão! O dinheiro que se foda! Estou fora!
Nisso, a mulher levantou-se e a reação tida por ele não pode ser descrita com perfeição. O corpo dela era longo, como uma cobra. Na verdade ela ERA uma cobra. Veio arrastando-se até ele que, chocado, não reagiu. Enrolou-se em seu corpo. Podia sentir as escamas ásperas a arranhar-lhe a pele e a também o cheiro acre que emanava dela:
- Você VAI cantar! Sssou eu quem lhe paga e eu exijo a minha diversssão. Ou você canta pra mim a hora que eu quiser eu eu te devoro! Você não maisss sssai daqui! Ssseu cantorzinho medíocre! Agora canta! Ou morre!

terça-feira, junho 24, 2003

Can you take me higher?


Acordou de manhã e descobriu que podia voar. Não possuía asas, mas bastava mentalizar e podia alçar às alturas. Fazia acrobacias longe das vistas de todos, apreciava o nascer do sol do alto de enormes montanhas. Era feliz. Feliz como nunca fora, até que um dia ele a conheceu.
Ângela, uma mulher linda, loira com cabelos encaracolados, como os anjos rococó das igrejas barrocas. Não resistiu ao charme dela e fez de tudo para agradá-la, flores, bombons, ligações, tudo, exceto mostrar seu dom.
Após muita insistência Ângela cedeu. E o amor passou a fluir, maravilhosamente entre essas duas almas. Eles eram felizes e muitos os consideramvam um casal perfeito. A confiança aumentava a cada dia e ele resolveu contar seu maior segredo.
Saíram um dia pela manhã e numa planície deserta ele voou. Brincou, fez piruetas e a carregou. Ao colocá-la no chão viu seus olhos vidrados e em pânico. Prometeu-lhe nunca mais voar.
Voltaram à casa e ela negou-lhe amor. Ressabiado e ressentido ele adormeceu. Na madrugada foi desperto com o gosto frio do aço em sua garganta:
- Somente aos Anjos é permitido voar, sei que não és um Anjo então só podes ser um demônio. Adeus.
E ele se foi, sonhando com planícies e com o nascer do Sol...
Is anybody there?


Confiava nela. Quase a amava. Era o objeto mais importante de sua vida. Toda a atenção era dispensada à sua Beretta 9mm, de fabricação e uso estritamente militar, que havia ganho de maneira escusa. Foi amor a primeira vista, algo realmente inexplicável, pois antes de possuí-la era avesso a qualquer demosntração de violência.
Um dia, ouviu lhe chamarem. Não havia ninguém por perto e conclui que só poderia ser ela, seu amor, aquela que sempre defenderia sua vida. Ela o chamava para que descontasse toda a sua raiva do mundo, todo o seu ódio pelas pessoas que o tratavam como escória. Imediaiatamente concordou. Ela tinha toda a razão, nunca mais seria maltratado novamente, nunca mais o chamariam de maricas ou de fresco. Ela era a solução para todos os seus problemas.
Dirigiu-se então ao seu trabalho, subiu calmamente ao seu andar pelo elevador, sentou-se em sua mesa e solicitou uma audiência com seu chefe. Este recebeu-o com um sorriso amarelo de quem quer dispensar logo alguém. Não teve tempo de dizer palavra. BAM! Jazia morto. A sensação tomou conta de seu corpo e ele sentiu-se um deus, com poder de julgamento sobre a vida e a morte. BAM! Uma secretária promíscua morta. BAM! Nunca mais ririam dele. BAM! Não mais cafezinho sem açucar! BAM! Não mais computador travando. BAM! Não mais um boy hipócrita e metido a engraçadinho. BAM! Não mais "colegas" para rirem dele. BAM! Não mais faxineira para derrubar um balde em seus pés.
As pessoas corriam, apavoradas, enquanto ele simplesmente apertava o gatilho e tomava as vidas daqueless que julgava não merecerem tal dádiva.
Então estava só, no escritório, trancado juntamente com diversos corpos e ouvia a polícia do outro lado a pedir que se entregasse. Não se entregaria jamais e sentia precisar afirmar isso:
- Não saio! Não há força que resista a mim e a minha querida, nenhum de vocês pode entrar aqui sem ser julgado por nós! Ela me ama e eu a amo! Esperem! Ela quer falar! Ela está dizendo quem vocês querem me prejudicar, me privar da minha liberdade! Ela diz que vocês são maus e que ela vai me levar para um lugar melhor. Eu te ouço meu amor. Sim, eu vou para qualquer lugar juntamente com você. Eu farei de tudo para te fazer feliz.
Silêncio, tensão, a polícia decide entrar à força, mas então ouve-se:
BAM! E não mais...