segunda-feira, junho 30, 2003

Lay down in Neverland


Eu ouço. Mas não como todo mundo ouve. A mim é permitido prescutar os segredos mais profundos de alguém. Eu ouço PENSAMENTOS. Nada pode ser escondido de mim, basta uma pergunta bem formulada.
Esse dom, que muito interpretam como benção, é para mim nada mais do que um fardo, algo que tenho de carregar com dificuldade e sofrimento.
As malditas pessoas têm por hábito serem todas iguais. Escondem seus sentimentos e nunca, em hipótese alguma, revelam sua real opinião, a não ser que isso lhes seja extremamente interessante.
Em razão disso; me isolei do mundo. Não falo com ninguém, não saio de casa e compro tudo pela Internet. A Internet aliás tem sido uma excelente ferramenta. Através dela posso conversar calmamente com alguém sem me preocupar; enfim, ser normal.
Pela Net conheci Seraph, uma moça que se descrevia como não tão bonita, mas simpática. Me contava de tudo e mais um pouco, além de me encher de perguntas. Eu, é claro, evitava um envolvimento mais profundo, mas Seraph me conquistou de tal modo que resolvi testá-la pedindo que viesse à minha casa.
Ela concordou e na noite seguinte ao pedido estava em minha casa. Ela era linda. cabelos brancos, lisos, enormes. Olhos verdes como o mar e um sorriso indescritível. Cumprimentou-me com um beijo longo e demorado. Começamos a conversar.
Por um estranho milagre Seraph era sincera EM TODAS as suas palavras, fossem de agrado a mim ou desagravo à falta de açúcar de meu café. Aquilo definitivamente encerrara qualquer teste.
Nos amamos muito aquela noite e qual minha surpresa ao perceber que ela veraddeiramente me elogiara. Deus, como eu era feliz.
Seraph rapidament ese mudou para minha casa e tivemos os melhores três meses de nossas vidas, principalmente porque ela me permitia continuar em casa sem ver o mundo e nem me perguntava o porquê.
Um dia a tarde ao esperar Seraph chegar ouvi em frente à minha casa uma freada forte e um estrondo. Corri à janela e quase morri. Seraph jazia atropelada por um carro. Corri para fora em desespero e abracei seu corpo:
- Não! Por que você me abandonou? Deus! Por que você a levou? Só ela me entendia! Você! É tudo culpa sua!
- Quem? Eu? Eu não tive culpa, ela se jogou na frente do carro! ("Ainda bem que ninguém me viu furar a preferencial, senão estaria encrencado!")
- Seu maldito mentiroso! Eu SEI o que você fez! E você vai pagar!
Irado, tomei de um caco de vidro no chão e parti para cima daquele maldido. Matei-o! Mas fiquei gravemente ferido.
A ambulância que iria socorrer Seraph veio até mim juntamente com um policial que estava nas imediações e viera checar a confusão. Eu agonizava, não pelo ferimento, mas pela gritaria em minha mente. O turbilhão dos pensamentos em cada um era deveras alto e num fluxoi incontrolável. Num último ropmpante de consciência avancei sobre o policial, tomei-lhe a arma, desferi dois tiros ao alto e gritei:
- Silêncio!!!! O barulho aumentou ainda mais. Agora as mentes gritavam como uma revoada de pássaros ensandecidos. Aquilo era demias para mim. Eu não aguentava mais. Dirigi meu pensamento à Seraph, apontei a arma para a minha cabeça...
BAM!
Dream on, while you can


Cá estou novamente, em frente a uma tela branca, espremendo o cérebro em busca de uma idéia que satisfaça me ego crítico. Quando decidi ser publicitário não imaginava que slogans pudessem ser tão insuportavelmente difíceis de bolar. Esse da campanha anti-violência além de não me dar retorno em dinheiro é muito difícil de ser feito. Mas chato, chato mesmo, é aquele maldito produtor me cobrando. Deus, como alguém consegue ser tão néscio?
Telefone:
- Alô?
- Oi! Sou eu, já terminou?
- Já! Tenho uma idéia ótima!
- Qual?
- Me filmamos esmagando a sua cebça com a marreta e colocamos o Slogan: "Para evitar coisas como essas, previna a violência televisiva!"
- Gracinha! Além da idéia ser idiota é tão violenta quanto o que a gente pretende evitar. Vê sê trabalha direito e DE-PRES-SI-NHA!
- Ok, ok, tem como você dar uma passada aqui depois das oito e a gente discute isso?
- Ah Deus, eu sabia quie ia acabar tendo que fazer o teu trabalho, mas tudo bem...
Não aguentava mais. Estava com meu 38 na gaveta e apenas esperaria o momento certo.
Chega a noite, todos saem do escritório, finalmente. Logo após, como que pela mãe das coincidências, batem à porta. Só podia ser ele.
Vou à porta já de arma em punho, disposto a abrir e atirar. Mas quando me aproximo sou atingido por um objeto pesado que arrebenta a porta. Caio e meu algoz não para em nenhum momento de desferir golpes.
Segundos antes de expirar, ouço alguém gritar:
- CORTA! Essa vai pro ar e vai ficar beleza!!

sexta-feira, junho 27, 2003

We meet again


Sou boy. Odeio o Kid-vinil, mas sou boy e acordo as sete e meia, todo aquele papo ridículo. Não gosto muito desse trabalho mas às vezes passo por situações um tanto quanto pitorescas.
Fui entregar um aviso de cobrança à filha do dono da empresa que tinha uma estranha dívida: comprara 900 reais a prestação em um sex shop e agora estava sendo intimada a ressarcir essa tal dívida. É fácil imaginar como a minha libido estava ao encontrá-la. Pois bem.
Recepcionou-me uma verdadeira deusa. Cabelos longos e lisos, negros como a escuridão da noite. Olhos idem, profundos, capazes de desvendar qualquer segredo. E um corpo, um corpo que não pode ser definido por palavras:
- Boa tarde.
- B-b-oa t-tarde. E-eu vim entregar-lhe essa intimação a respeito de uma conta...
- Qual o valor?
- 1750 reais com juros de 15% ao dia.
- Nonssa! Tudo isso. Não há como você me dar um desconto? Ela se aproximou e eu senti que começava a suar frio:
- Vamos, entre e tome uma xícara de chá.
Nem reagi e quando vi estava lá, sentado e tremendo com um copo de chá na mão. O silêncio reinava absoluto quando ela me disse:
- Escutaqui!!! Você não gosta da fruta não?
- C-como?
Nem houve como terminar qualquer frase. Ao dar por mim estava amando aquele mulherão ali mesmo, na sala dela.
Deixei a intimação e prometi voltar mais a noite para um "serviço completo". Ela disse que me esperaria de uma maneira muito estranha:
- Eu vou esperar. Eu preciso que você volte.
Fiquei intrigado; mas a noite estava eu lá, com uma ereção monstruosa e pronto pra ação. Ela recebeu-me na porta, já nua e agarrou-me; começou a me amar e a repetir:
- Ah! Eu preciso de você, eu preciso de você para viver!
Não entendia aquilo até a hora em que ela me beijou na boca. Agarrou-me com força e eu comecei a me sentir fraco, muito fraco, cada vez mais fraco e só nos últimos instantes percebi meu corpo definhando, a carne quase tocando os ossos. Fraco, sem forças expirei.
No outro dia na empresa via-se um cartaz na porta: Precisa-se de boy para entrega de cobranças
I feel there´s nothing I can do


As vezes sinto como se toda a vida me abandonasse. Nada tem sentido e perco totalmente a vontade de me relacionar com o mundo. Hoje por exemplo estou aqui, plena sexta a noite e trancafiado em casa. Ouço meu radinho velho cacarejar:
- Venham até a Sombria, a mais nova casa noturna da cidade. Inaugurada recentemente em frente ao cemitério municipal na antiga casa dos Down.
Aquela propaganda mexeu comigo e retirou-me da minha letargia habitual. Resolvi encarar essa! Arrumei-me e fui até o tal lugar.
Chegando lá uma fila gigantesca para entrar já me dissuadia a dar meia-volta, mas, súbito, uma mão gelada toca meu ombro e me convida a segui-la. Vou e rapidamente estou dentro. Ela se apresenta com Emille e começa a fazer um questionário completo de minha vida. Encantado que estava respondo a todas as perguntas sem hesitar e ela elogia fervorosamente meu modo de vida isolado do mundo. Após dançarmos, conversarmos e nos divertirmos ela me convida a um lugar mais reservado. Imediatamente solto a pérola:
- Na minha casa ou na sua?
- Apenas siga-me meu anjo, porque eu conheço alguns ótimos lugares aqui dentro mesmo.
Driblamos a segurança e ela me levou até um quarto bonito bem decorado em estilo antigo. Começamos a nos acariciar e ela deitou-me na cama, vindo por cima de mim e pedindo que eu fechasse os olhos. Obedeci e senti minhas mãos sendo amarradas com delicados lenços de seda. Minha calça parecia estourar.
Ela então saiu de cima de mim e emitiu um grito agudo, horrível.
Imediatamente abri os olhos e vi mais duas pessoas, em roupas velhas roídas como que por traças que me olhavam de longe:
- Meus parabéns filha! Ele dará um ótimo genro...
- PERAÍ! Do que vocês estão falando?
- Eu não me disse meu nome completo meu anjo. Eu me chamo Emille Down e esses são meus pais.
As estranhas figuras se aproximaram e eu, horroizado pude visualizar que não havia carne em seus rostos e em nenhuma parte de seu corpo:
- O que vocês vão fazer? Vão me matar?
- Não! Não nos é permitido tirar uma vida, mas podemos ficar aqui assistindo você definhar até ficar como nós.
- NÃAAAAAAAAAAAAAAAAAAO!
- Calma meu amor... Agora você tem todo o tempo do mundo para dormir...

quinta-feira, junho 26, 2003

Reasons for me to find you


O tempo deixou de correr. Sinto como anos houvessem se passado. Não sei quando é dia, tarde, noite. Reajo apenas às indicações naturais de meu corpo como o sono, a sede e a fome. Fome; a mais brutal de todas as necessidades do ser humano; quase tão brutal quanto a do ar. A fome me arrasa e tem me consumido desde ontem quando o pouco estoque restante de minhas rações e de minha companheira acabaram.
Ela está morta. Não sobreviveu à queda da viga de sustentação da mina que viemos explorar. Fui mais rápido no salto e consegui me abrigar, mas ela; infelizmente se foi.
Como havíamos trazido comida suficiente consegui resistir por um tempo, mas agora; agora é impossível resistir à fome. Olho o corpo dela e meu cérebro é tomado por sensações alucinantes, como a de que gosto pode ter a carne humana e quão apetitosa parece a porção da coxa de minha parceira. NÃO! NÃO!!! Preciso resistir! Não farei isso! Jamais! Vou dormir para espantar a fome!
Adormeço e sonho com uma mesa farta. Massas, carnes, manjares; tudo em uma mesa enorme aonde um leitão assado ocupa lugar de destaque. Deixo tudo de lado e abocanho, como um animal, a suculenta coxa do leitão. Delicio-me e nem me atento ao fato de a carne ter um gosto de frango. Estou a devorar quando de súbito um barulho me tira do sonho:
- Pare! O que você pensa que está fazendo? Pelo amos de Deus ! Pare!
Não compreendi o que ele queria dizer com aquilo até olhar para as minhas mãos, ensanguentadas. Senti o gosto em minha boca e olhei para o corpo inerte de minha companheira. Faltavam vários nacos de sua carne na região da perna e da virília. Eu não sabia o que fazer:
- Vamos filho, o médico vai te examinar e você vai ficar um tempo com a psicóloga.
Deus! Eu não conseguia me perdoar pelo que havia acontecido! E aquela psicóloga ainda me fazendo perguntas,perguntas, perguntas... Não ageuntei a pressão e após algumas sessões acabei por esfaqueá-la.
Agora, com esse corpo aos meus pés e a polícia a caminho não páro de me perguntar:
- Que gosto será que ela tem?
Because nothing compares to you


Uma folha em branco, palavras na mente. Um lápis, um simples lápis e a transformação acontece. Idéias tomam cor, forma, conteúdo, vida. Amo meus lápis; adoro apontá-los, com faca, deixá-los sempre como novos, afiadíssimos e prontos para o uso. Com meus lápis eu posso conquistar o mundo. TOC TOC. A porta. Odeio ser interrompido:
- Pois não?
- O senhor gostaria de comprar esse maravilhoso apontador mega ultra plus detonator? Ele aponta lápis em segundos deixando-os novos e prontos para o uso!
- Não, obrigado!
- Mas senhor, um escritor como o senhor deve usar dezenas de lápis por dia! Por que perder tempo com lâminas ultrapassadas? Deixe-me demonstrar!
Arrancou-me o lápis que trazia na orelha e colocou-o no aparelho. Houve um barulho ensurdecedor e meu amado lápis foi quase aniquilado por aquela máquina demoníaca.
Não resisti. Saquei de outro lápis do bolso e ataquei-o. Tomado de fúria indomável perfurei seus olhos, garganta e só parei quando estavámos ambos no chão; eu sobre a poça de sangue formada olhando para um rosto perfurado e sem forma.
Como de praxe fui preso, julgado e condenado. Mas pelo menos na cadeia me deixam escrever meus contos.
O ruim é que eu ODEIO canetas!!!!

quarta-feira, junho 25, 2003

There´s nothing left here to remind me


Ela se foi. Não há mais alegria em meus dias e nada mais parece contentar-me. Nem mesmo a companhia de minha gata de estimação que tanto me aprazia consegue aplacar o sofrimento em meu peito. Perdi todo o ânimo e tenho apenas em minha mente o desejo da morte.
Minha gata, negra como a noite, tenta de todas as meneiras me animar; seja fazendo as brincadeiras de sempre seja inventando outras novas. Nada funciona.
Um dia, ao retornar do trabalho (um dia péssimo, diga-se de passagem), fui recebido por ela, mas mal-humorado com estava não medi meus atos e desferi-lhe um chute com tanta força que ela morreu imediatamente após bater contra a parede. Desandei em choro. Pedi desculpas, rezei, implorei. Nada adiantou. Perdi minha última companheira e nada mais restava.
Dirigi-me então ao tereno baldio mais próximo afim de enterrar minha amiga. Enquanto cavava sua cova culpava-me uma vez mais pela sua morte. Termino o serviço já com noite alta e volto até minha casa ainda chorando.Chego e vou direto à minha cama,onde tenho um sono conturbado e cheio de pesadelos.
Amanhece e o dia passa-se de forma lenta e tediosa, mas sem grandes acontecimentos.
Volto pra casa, assisto aos mesmos programas de sempre e vou para a cama. A noite ouço miados, muitos; como se cercassem a minha casa. Aquilo me irrita ainda mais e resolvo tomar uma atitude. Vou até a janela, de espingarda em punho, disparo quatro tiros a esmo e retorno sem sequer me importar com o resultado.
Com o silêncio adormeço, mas por pouco tempo. Repentinamente sou acordado por eles. Sim, os gatos, estavam em minha cama, milhares deles, subiam em cima de mim, me arranhavam, me mordiam e eu sentia a vida me abandonar aos poucos. So consegui me lembrar das primeiras palavras de minha esposa quando compramos a gata:
- Você sabia, amor, que as antigas bruxas se metamorfoseavam em gatos pretos?
É... Eu devia tê-la ouvido...
At first I was afraid


Era cantor. Falido, fracassado, de nenhum sucesso, mas um cantor. Não era ruim, apenas não soube agarrar a oportunidade quando ela surgiu. Peregrinava de cidade em cidade buscando emprego em casas noturnas decadentes ou mesmo em zonas de meretrício. Não conseguia estabelecer-se, pois era suficientemente ambicioso para nunca manter-se em um único lugar.
Em suas andanças chegou a uma cidade que nem sequer havia no mapa, Ternura. Caminhou pela pequena cidade e descobriu que esta possuía apenas um pequeno bar, de estado um tanto deplorável. Resolveu parar para tomar uma cerveja:
- Bom dia!
- Bom dia! O que deseja?
- Apenas uma cerveja bem gelada.
- Tá na mão!
- Escuta, você não sabe de uma cidade onde precisam de um cantor?
- CANTOR???? Você canta?
Inflado no ego, respondeu prontamente:
- Mas é claro, canto qualquer coisa!
Finalmente, nos ouviram! Venha comigo!
E foi levado diretamente ao prefeito e apresentado como o maior do mundo. Fizeram-lhe uma proposta irrecusável: 550 mil depositados em sua conta todo mês, para se apresentar de domingo a domingo na única casa da cidade como atração principal. Ganancioso como era aceitou sem cogitar e marcaram sua grande estréia para aquela noite.
Vestiram-lhe um terno brilhante, cortaram seu cabelo, maquiaram-no e fizeram todas as suas vontades. A noite levaram-lhe ao lugar combinado; uma maravilhosa casa montada atrás da prefeitura.
Foi aos bastidores e aguardou ser anunciado. Fizeram sua apresentação. Entrou no palco e viu apenas uma mesa com uma mulher sentada numa mesa com pouca luz e com o rosto coberto. Revoltou-se:
- Que palhaçada é essa? Vocês me prometem mundos e fundos e eu vou cantar só para uma pessoa? Nananinanão! O dinheiro que se foda! Estou fora!
Nisso, a mulher levantou-se e a reação tida por ele não pode ser descrita com perfeição. O corpo dela era longo, como uma cobra. Na verdade ela ERA uma cobra. Veio arrastando-se até ele que, chocado, não reagiu. Enrolou-se em seu corpo. Podia sentir as escamas ásperas a arranhar-lhe a pele e a também o cheiro acre que emanava dela:
- Você VAI cantar! Sssou eu quem lhe paga e eu exijo a minha diversssão. Ou você canta pra mim a hora que eu quiser eu eu te devoro! Você não maisss sssai daqui! Ssseu cantorzinho medíocre! Agora canta! Ou morre!

terça-feira, junho 24, 2003

Can you take me higher?


Acordou de manhã e descobriu que podia voar. Não possuía asas, mas bastava mentalizar e podia alçar às alturas. Fazia acrobacias longe das vistas de todos, apreciava o nascer do sol do alto de enormes montanhas. Era feliz. Feliz como nunca fora, até que um dia ele a conheceu.
Ângela, uma mulher linda, loira com cabelos encaracolados, como os anjos rococó das igrejas barrocas. Não resistiu ao charme dela e fez de tudo para agradá-la, flores, bombons, ligações, tudo, exceto mostrar seu dom.
Após muita insistência Ângela cedeu. E o amor passou a fluir, maravilhosamente entre essas duas almas. Eles eram felizes e muitos os consideramvam um casal perfeito. A confiança aumentava a cada dia e ele resolveu contar seu maior segredo.
Saíram um dia pela manhã e numa planície deserta ele voou. Brincou, fez piruetas e a carregou. Ao colocá-la no chão viu seus olhos vidrados e em pânico. Prometeu-lhe nunca mais voar.
Voltaram à casa e ela negou-lhe amor. Ressabiado e ressentido ele adormeceu. Na madrugada foi desperto com o gosto frio do aço em sua garganta:
- Somente aos Anjos é permitido voar, sei que não és um Anjo então só podes ser um demônio. Adeus.
E ele se foi, sonhando com planícies e com o nascer do Sol...
Is anybody there?


Confiava nela. Quase a amava. Era o objeto mais importante de sua vida. Toda a atenção era dispensada à sua Beretta 9mm, de fabricação e uso estritamente militar, que havia ganho de maneira escusa. Foi amor a primeira vista, algo realmente inexplicável, pois antes de possuí-la era avesso a qualquer demosntração de violência.
Um dia, ouviu lhe chamarem. Não havia ninguém por perto e conclui que só poderia ser ela, seu amor, aquela que sempre defenderia sua vida. Ela o chamava para que descontasse toda a sua raiva do mundo, todo o seu ódio pelas pessoas que o tratavam como escória. Imediaiatamente concordou. Ela tinha toda a razão, nunca mais seria maltratado novamente, nunca mais o chamariam de maricas ou de fresco. Ela era a solução para todos os seus problemas.
Dirigiu-se então ao seu trabalho, subiu calmamente ao seu andar pelo elevador, sentou-se em sua mesa e solicitou uma audiência com seu chefe. Este recebeu-o com um sorriso amarelo de quem quer dispensar logo alguém. Não teve tempo de dizer palavra. BAM! Jazia morto. A sensação tomou conta de seu corpo e ele sentiu-se um deus, com poder de julgamento sobre a vida e a morte. BAM! Uma secretária promíscua morta. BAM! Nunca mais ririam dele. BAM! Não mais cafezinho sem açucar! BAM! Não mais computador travando. BAM! Não mais um boy hipócrita e metido a engraçadinho. BAM! Não mais "colegas" para rirem dele. BAM! Não mais faxineira para derrubar um balde em seus pés.
As pessoas corriam, apavoradas, enquanto ele simplesmente apertava o gatilho e tomava as vidas daqueless que julgava não merecerem tal dádiva.
Então estava só, no escritório, trancado juntamente com diversos corpos e ouvia a polícia do outro lado a pedir que se entregasse. Não se entregaria jamais e sentia precisar afirmar isso:
- Não saio! Não há força que resista a mim e a minha querida, nenhum de vocês pode entrar aqui sem ser julgado por nós! Ela me ama e eu a amo! Esperem! Ela quer falar! Ela está dizendo quem vocês querem me prejudicar, me privar da minha liberdade! Ela diz que vocês são maus e que ela vai me levar para um lugar melhor. Eu te ouço meu amor. Sim, eu vou para qualquer lugar juntamente com você. Eu farei de tudo para te fazer feliz.
Silêncio, tensão, a polícia decide entrar à força, mas então ouve-se:
BAM! E não mais...

quarta-feira, junho 18, 2003

Don´t make deals with the Dragon


Dentro de um ataúde horrível jaz teu corpo. Não mais terei teu abraço, teu perfume, tua voz. O sofrimento toma conta de meu corpo ao ver-te partir e saber que não mais irás voltar.
A noite; ainda sussuro teu nome, teus braços ainda me envolvem e ao acordar de manhã ainda sinto a sensação inebriante de ter amado-te durante toda a noiite.
Uma semana se passa e nada muda. Sempre as mesmas sensações, cada vez mais intensas. A única diferença é que a minha tradicional insônia desapareceu completamente. Agora deito-me e durmo profundamente com você me dizendo para não abrir os olhos, aconteça o que acontecer.
Após semanas assim, a curiosidade me invade: Por que sempre ouço-te me dizendo para fechar os olhos? Não consigo entender e resolvo desobetecer-te. Quando ouço tua voz abro os olhos instantaneamente. E nunca, jamais, tive visão tão horrível. Teu corpo; comido por vermes e com as roupas rasgadas estava sobre o meu. Teu toque era gélido como o da própria morte e teu rosto desfigurado encarava-me sem expressão. Desesperado apenas gritei:
- NÃO!!!!!!
- Agora é tarde meu Anjo... Aos que me vêem, resta apenas o consolo de compartilhar meu destino.
Aquele ser cheio de bichos repugnantes beijou-me, mordeu-me, dominou-me à força e com um simples movimento quebrou meu pescoço.
E hoje somos um casal feliz a vagar por entre quartos de motel e estradas abandonadas...
Uma pausa para nossos comerciais


Sentado, com o mundo aos pés; observo as pessoas caminharem, sem rumo, como formigas em um enorme caminho que não leva a lugar nehum. Seus pensamentos são um livro aberto pra mim. Todos têm o mesmo ideal, os mesmos sonhos, os mesmos gestos e o mesmo medo impresso em suas faces.
Súbito, um ser estranho aparece. Cabelos brancos, até a cintura, lindos, contrastando com seus lindos olhos. Traz em si uma vontade de viver e uma alegria que cativam até mesmo os que a vêem de relance. Atravessa a rua; cantando, dançando. Não vê o caminhão que fura o sinal e a acerta em cheio retirando sua vida no mesmo instante...
Voltamos a nossa programação normal...
The real folk Blues...


A vida nada mais é, do que pequenas doses de morte aplicadas a nós diariamente pelo Divino.

terça-feira, junho 17, 2003

When angels deserve to die


Andando na multidão e procurando um lugar para descansar. Paro no primeiro pé sujo que encontro e peço um guaraná Jesus e um pastel. Sacio minha fome e volto a lhe procurar. Teu cheiro destaca-se mesmo entre as milhares de pessoas que tropeçam em mim e nem se quedam a pedir desculpas. Posso ouvir teus passos mais e mais perto. Encontro-te:
- Olá meu amor! Achei que não viria mais.
Nem sequer respondo. Beijo-a e deixo-me guiar até sua casa. Nos amamos, louca e febrilmente. Enquanto ela dorme, já de banho tomado, sussuro em seus ouvidos:
- Eu realmente sinto muito...
Um único tiro na cabeça resolve tudo. Agora é deixar o corpo em um carro qualquer e receber meu pagamento. Mas não sem antes voltar ao pé sujo. O pastel de lá é excelente!

segunda-feira, junho 16, 2003

Don´t tell me ´cause it hurts


Da única janela existente em minha casa observo a multidão e não consigo deixar de pensar aonde você pode estar. Qual foi o caminho que decidiste tomar? Em qual das ruas que daqui enxergo você andará? Seu nome ecoa em minha mente e eu divago.
Sou então extraído de meus pensamentos por um flash. Viro-me e observo a tua silhueta; nua, apenas com a máquina fotográfica pendurada em seu pescoço. Tens o teu famoso olhar de "o que você acha?"
Não resisto; entro em sua brincadeira; tiramos milhares de fotos e eu amei-a a noite inteira saciando-me completamente em cada parte do corpo dela. Vencido pelo cansço adormeci.
Acordo no dia seguinte; solitário e com um rolo de filme ao meu lado.
É... Vamos começar tudo de novo...
Nada que com um pouco de cola e cuspe não se resolva


Aqui, sentado na solidão desse jardim observo seu corpo aos meus pés. Jazes morta e eu nada pude fazer para evitar, tão embriagado que estava. Não foi culpa minha. Foi o álcool, sim, o álccol que me embriagou e me fez dirigir em velocidade suficientemente alta para fazer com que até meus netos sejam proibidos de ter habilitação. Visualizei tarde demais quando entraste na frente do carro e não consegui sequer pensar em frear ou desviar para evitar o choque. Agora não há mais volta.
Retiro a pá do porta-malas e cavo uma cova funda, em meio às árvores para que não seja descoberta tão cedo. O que me incomoda é que não há meios de me livrar da dor e do remorso. Resolvo fazer algo que há muito havia abandonado: Rezar!!!
- Deus, se é que você existe, eu sei que desisiti de você e você de mim há um tempão, mas dá um jeito nisso. Resolve o problema dessa menina tão linda que se machucou demais por minha causa. Eu prometo que se ela se safar dessa eu tomo jeito. Por favor. Eu nunca mais volto a te incomodar.
Assim que eu terminei essa "prece" ela começou a se levantar como se nada tivesse acontecido. Olhou-me intrigada e perguntou o que havia acontecido. Expliquei relutante, dizendo um "desculpe" entre cada frase. Ela sorriu e apenas disse: "Ok, vamos tapar esse buraco." E muniu-se da pá.
Quando me virei para ir ao carro; apenas pude sentir a pancada seca nas costas e o gosto da terra. Apanhei por mais alguns minutos antes de apagar e, no limiar de minha vida, apenas ouvi:
- Isso é para garantir que você não vai machucar ninguém.

sexta-feira, junho 13, 2003

There´s no way out


Estou dormindo, mas posso senti-la aninhada em meus braços. Seu corpo quente me envolve, seu abraço me transmite calor e me conforta.
Ela me beija, eu acordo e resolvo partir para a ação. Suas mãos me tocam e eu rapidamente expulso qualquer resquício de sono que pudesse haver em mim. Beijo-a loucamente, acaricio cada curva de seu corpo, seus seios rígidos, implorando para que sejam beijados. Eu o faço. Encontro-me no ápice de meu prazer.
Entro dentro dela e começamos a nos amar. Primeiro devagar e depois mais rápido. Ela me vira. Eu aceito ficar por baixo. Ela me cavalga e eu sinto o prazer em cada poro do meu corpo. De repente suas mãos enlaçam meu pescoço e o apertam. Eu tento me livrar, mas é impossível. Sinto suas unhas perfurando minha carne vagarosamante. Uso de todas as minhas forças para emitir um único grito desesperado:
- NÃO!!!!!!!! E salto da cama.
Acordo suado e olho para seu corpo, morto, todo retalhado a facadas. Tomo a única decisão cabível, declarando então em voz alta:
- Ok! Eu vou enterrar-lhe agora. Senão não me deixarás dormir.
Termino a cova e me despeço:
- Boa noite. Tenha bons sonhos.
Minhas boas vindas aos que chegam a esse humilde corredor. Acredito que a partir de amanhã teremos alguns contos para vosso deleite. Por enquanto, posso apenas agradecer e pedir que voltem!

Adieu