quinta-feira, agosto 21, 2003

It´s only words


Sempre me achei bom com as palavras. Sempre tive facilidade para dominá-las e transformá-las em contos, cartas, poemas, canções. Mas hoje, após lembrar-me em detalhes de todo o ocorrido ontem, sinto como se meu teclado fosse composto de animais selvagens, cada qual mais perigoso que o outro, e todos dispostos a devorar-me as pontas dos dedos.
Não consigo mais compor absolutamente nada. Não consigo sequer rimar amor com dor. Tudo porque você fez o que fez.
Sempre foste minha musa inspiradora; aquela que me incentivava a escrever e sempre criar, criar e criar. Nunca exigi nada de ti, apenas a tua presença. Era livre pare ter quem quiseres e fazer tua vida como bem entendesse. Eu exigia apenas tua presença ao meu lado, a noite, quando eu resolvia criar.
Mas você se apaixonou. E não mais vinha a mim. Deixava-me só, abandonado e o pior, sem idéias!
Comecei a lhe seguir, apenas para ver porque me abandonaste. Bisbilhotava tuas noites de paixão insaciável, teus encontros furtivos, tua felicidade exaltante. E tomado pela inveja, agi sem pensar. Facadas, incontáveis, para por fim à sua vida.
Hoje, apesar das lágrimas, ainda levo minha boa vida. E achei um novo brinquado que me entende e sempre está do meu lado. Um brinquedo feito em prata e afiado como meus escritos.

quarta-feira, agosto 20, 2003

Under pressure


E ali estava eu, parado, olhando para o quadro. Minha última lembrança de você; o último halo de luz sobre a minha atormentada alma. O quadro que transmitia toda a paz que sua presença emanava ao meu lado. O quadro que me fazia lembrar dos momentos vividos e das alegrias divididas; assim como as lágrimas derramadas em conjunto e tantas outras coisas que vivi desde o dia em que chegaste à minha vida.
Você apareceu, sem avisar. Como uma garoa fina que de repente se transforma em um verdadeiro dilúvio, que foi capaz de arrebatar meu coração, minha mente e tantas outras coisas.
Foi inevitável que nos tornássemos um tão cedo. Tudo passou a ser dividido, não havia você sem mim e nem eu sem você. Nada fazia sentido quando você não estava por perto.
Sob sua influência, comecei a pintar. Obras no começo péssimas, mas que ante seus elogios e incentivos foram melhorando significativamente, até se tornarem nosso hobby. Meu e seu sim; pois nas raras vezes em que se valia de um pincel, tu eras capaz de me brindar com obras magníficas. Como a que admiro aqui, agora, a chorar.
Deus, foram tantas coisas vividas, momentos maravilhosos, incontáveis presentes e coisas que realmente jamais esquecerei. Até aquele maldito dia. O dia em que ela chegou...
Uma simples cortesã, uma empregada. Com o péssimo hábito de sumir com pequenas coisas, não como uma cleptomaníaca, mas sim por um egoísmo vil e sem sentido.
De começo não liguei. Achava que minha amada estava com ciúmes. Até o dia qm que meu relógio de ouro sumiu. Aí sim, eu acordei para a a verdade!
Procurei, procurei e nada. Interroguei a empregada e obtive uma confissão tão bem interpretada que quae tive pena. Não, não deixaria aquilo continuar e a expulsei. Ledo engano.
Exatos sete dias depois, minha casa é invadida, minha amada é morta, e sou espancadao até quase a morte. Então, em meu último suspiro, eu a vejo:
- Sua pena será maior, e pior que a morte. Apenas feche seus olhos.
A dor, o mundo a girar, apago. Longas horas depois, abandonado em casa, observo o corpo de minha amada ao meu lado. Ela jaz em paz, com um sorriso. Sou tomado por uma sede inexplicável, que me consome sem piedade. Não há água suficiente no mundo para aplacá-la. Só muito tempo depois aprendi tudo o que precisava saber sobre a sede, a dor e as fraquezas.
E hoje, no seu aniversário meu amor, ao lado do último presente que me desde, decido por fim a tudo. Apenas aguardo o sol surgir e inundar a sala, levando-me para junto ti. Pois pior que a maldita sede é apenas a dor causada pela saudade.

quinta-feira, agosto 14, 2003

Liberi fatali


Divagava embaixo de uma árvore, apreciando a fina chuva que caía. Lembrava-se da infância e de bons momentos vividos no passado. Comia as maçãs que trouxera enquanto esperava a chegada de seu amor. Saboreava a fruta, comparando-a com o gosto dos lábios de sua querida. Nada poderia afastar seus pensamentos de sua amada, enquanto ela não chegasse.
Ela despontou por sobre a colina e enxergou-o sentado, a esperar. Lembrava-se de quando o conheceu, do amor à primeira vista e das lindas noites passadas juntos. E torturava-se por que sabia que aquele seria seu último encontro. Precisava alimentar-se.
O maldito castigo depositado sobre Aya fazia com que não pudesse se apaixonar, pois lhe era necessário o sangue para que se mantivesse viva. Por quantas vezes Aya amaldiçoou aquele que a pusera naquele estado; e quantas vezes abençoara o dia em que o viu pregado nas estacas de seu pobre castelo. Desde então ela tem suportado a fome ao limite, sofrendo por cada um que perde a vida para saciá-la. E hoje, infelizmente, é o dia de Jonas.
Jonas apenas observa a chegada de seu amor. Seus olhos brilham enquanto ela se aproxima e ele se levanta e corre, na fina garoa, em direção ao seu amor. O beijo trocado por ambos é ardente, cálido, tão íntimo que é impossível a ambos resistir ao desejo. Os dois se amam ali, na chuva, em uma floresta deserta. E esse amor sela a piedade de Aya, que decide suportar a fome e viver seu amor intensamente, mas sem impôr a Jonas o seu pesadíssimo fardo:
- Jonas, meu amor, eu tenho um segredo para te contar.
- O engraçado é que eu também. Mas fale-me o seu primeiro.
E Aya contou a Jonas toda a sua história, sua verdadeira idade, suas antigas vítimas e todos os motivos que a levaram a não querer que Jonas partilhasse de seu destino:
- Agora me fale o seu segredo, se é que você ainda me ama.
- Meu segredo era um presente, espere aí.
Caminhou até detrás da macieira, aos prantos, pegou lá o revólver que guardara e atirou, seis vezes, em uma atônita Aya, que nem seguer reagiu ao ver Jonas cortar sua cabeça com uma espada. Suas últimas palavras foram:
- Pelo menos é tu quem vais me dar paz.
Aos prantos Jonas aponta a arma para a cabeça e, antes do sétimo e último tiro diz:
- Descanse em paz meu pai, agora vou acompanhá-lo e quem sabe, seexistir um Deus, ainda farei companhia ao meu amor aonde quer que ela esteja.

sexta-feira, agosto 08, 2003

Men at Work


Em sua mesa ele reflete sobre suas tarefas. Obrigações corriqueiras e um dia-a-dia fútil e sempre igual. A rotina domina sua vida com tal força que ele já nem sequer se lembra da sua última grande emoção. Tudo é tão igual e tão normal que ele aparenta estar todos os momentos movido pela alavanca de automático.
Amanhece; mais um dia, mais uma camisa branca, um par de meias negras, a cueca azul, uma gravata combinando com a calça e seu inseparável estojo de canetas. Nada diferente; o mesmo caminho, o mesmo sinal aberto... Um maluco cruzando a faixa, uma batida espetaular, que não estava nos planos.
Ele sobrevive, milagrosamente, assim como a mulher que atravassava a rua n momento do acidente. O proprietário do outro carro morre antes de ser retirado dos escombros. Ambos vão ao hospital e à delegacia, onde as conversas triviais sobre quem sofre o mesmo maç são inevitáveis:
- Pois é, escapamos de uma boa, hein?
- É... Meu cehefe deve estar maluco, mesmo depois de ter sido avisado.
- Não esquenta, empregos passam, a vida só pode ser vivida uma vez.
- Acho que você tem razão.
E assim trocaram nomes, telefones, combinaram de sair e começaram a levar um relacionamento agradável, onde ele a ensinava a ser séria e compenetrada, enquanto ela doava a ele consideráveis parcelas de irresponsabilidade e o ensinava a aproveitar melhor seus momentos.
Ele aprendera tão bem que trabalhava feliz, com um sorriso invejado e com uma produtividade assustadora. Todos perguntavam o segredo de seu sucesso e ele prontamente respondia:
- Equilíbrio.
A vida era boa, até o dia em que ele foi promovido a vice-presidente. Seus horários eram apertados, horas extras incontáveis e, por consequência, uma mulher infeliz. Infeliz a ponto de procurar felicidade em outro lugar. sua última declaração veio em um bilhete:
" A balança pendeu demais para você e o prato entornou. Fique com seu maldito dinheiro porque eu vou tratar de ser feliz. Até nunca mais!"
Após isso resolveu mergulhar no trabalho a fim de livrar-se do vazio. Mas não produzia como antes, era desatento e não cumpria mais prazos, por mais elásticos que esses fossem. O inevitável ocorreu:
- Max, você está demitido.
- Mas você não pode fazer isso! Eu sacrifiquei tudo por essa empresa. Eu dei meu sangue.
- Eu sei Max, mas você já não rende como antes, você parece estar desiquilibrado.
- EQUILÍBRIO??? EQUILÍBRIO??? Quem é você para me falar sobre isso, seu maldito!!!!
Um movimento rápido e Max abria o peito de seu chefe com um abridor de envelopes. Sete golpes e a consciência recuperada, mas em pandarecos pelo ato desumano que cometera, resolveu então tomar a mais drástica das atitudes.
Enquanto seu corpo voava do décimo terceiro andar até o chão Max lembrava-se dos períodos felizes ao lado de sua amada e das coisas boas que ala lhe trouxera. Agora era tarde demais e antes de atingir o chão Max apenas viu a imagem de uma balança; enferrujada, destruída, com apenas um prato só, no qual estava seu coração...
Conhecendo o autor

Esse cara é meu ídolo, e já dá de cara pra sacar porque!!! Quem tem Winmx ou outra peer to peer, procure por "MATADOR DE PASSARINHOS", que também é sensacional


Rogério Skylab; Convento das Carmelitas

No Convento das Carmelitas eu entrei.
Esperei uma freira passar, esperei, esperei.
A primeira freira que passou, estrangulei.
Eu não gosto de freira, eu não gosto de frei.

No Convento das Carmelitas eu entrei.
Esperei outra freira passar, esperei, esperei.
A segunda freira que passou, estrangulei.
Eu não gosto de freira, eu não gosto de frei.

No Convento das Carmelitas eu entrei.
Esperei outra freira passar, esperei, esperei.
A terceira freira que passou, estrangulei.
Eu não gosto de freira, eu não gosto de frei.

No Convento das Carmelitas eu entrei.
Esperei outra freira passar, esperei, esperei.
A quarta freira que passou, estrangulei.
Eu não gosto de freira, eu não gosto de frei.

No Convento das Carmelitas eu entrei.
Esperei outra freira passar, esperei, esperei.
A quinta freira que passou, estrangulei.
Eu não gosto de freira, eu não gosto de frei.

No Convento das Carmelitas eu entrei.
Esperei outra freira passar, esperei, esperei.
A sexta freira que passou, estrangulei.
Os dias e as mortes em série me fazem tão bem.

P.s - Já que a minha vida está em jogo, vou fazer um conto pra hoje ainda!

quarta-feira, agosto 06, 2003

Washing away the sorrow


E em frente ao piano ele refletia sobre os últimos momentos. Não se lembrava como havia chegado até aquele lugar; sua última lembrança era o campo. O campo chuvoso, onde o céu derramava lágrimas de tristeza e trovões de fúria. Um raio, a árvore e ali estava. Sentado em frente a um piano, uma platéia e a mente limpa e tranquila.
Tocava o Minueto em Sol Maior, a única obra que fazia questão de saber de cor. Ao término foi ovacionado; e enquanto recebia os aplausos, sua mente viajava. Viajava até as primeiras aulas, aos 6 anos de idade, com sua companheira de folguedos Marie e a velha Marguerite como professora. A velha costumava ser muito exigente, mas a persevarença de ambos fez com que se equiparassem e se tornassem virtuoses em alguns anos.
Cresceram juntos e a paixão floresceu como era inevitável. Casaram-se e tiveram uma vida feliz, apesar de sem filhos. Até o dia do maldito acidente. Uma capotagem fenomenal por culpa de um embriagado que atravessara uma preferencial. Quis o caprichoso destino que apenas ele sobrevivesse para ouvir as últimas palavras de sua amada:
- Toque para que eu me vá em paz, por favor.
A peça executada no enterro era de beleza incomparável, porém foi a última. Tomado por um ódio descomunal ele queimou seu Fritz Dobbert e nunca mais quis saber de música em sua vida.
Após a longa viagem ao passado percebeu que aindo o aplaudiam, esfusiantemente, e dentre as pessoas uma mulher, de beleza áurea destacava-se entre a multidão de negro:
- Marie, é você?
- Por favor, apenas toque o Requién para que eu me vá em paz.
- Mas eu não me lembro mais, eu queimei as partituras e fiz questão de esquecer a canção!
- VOCÊ ESQUECEU A MINHA CANÇÃO?? COMO EU VOU DESCANSAR?
- Mas do que você está falando, meu bem?
Vã pergunta, o lindo teatro desfez-se; e um campo, fétido e tomado por osso começa a tomar forma, os bancos de mogno puro transformam-se em pedaços de couro dispostos de maneira grotesca e o público bem trajado revela ser niguém menos do que pessoas apodrecidas por uma morte sofrida e talvez precoce.
Marie, agora nada além de trapos de um vestido branco sobre carne putrefata avança sobre seu amado e começa a estrangular-lhe. Ele, sem nada compreender, apenas pode perguntar:
- Por quê?
- Eu esperei durante vinte malditos anos nesse lugar, prometendo para quem manda aqui que quando você chegasse traria música e paz para todos esses atormentados e você me comete o disparate de abandonar nosso sonho?
Ele não pôde ouvir as últimas de sua amada, pois seu último fio de vida esvaiu-se do corpo. Agora ela era apenas mais um entre os condenados a esperar...

terça-feira, agosto 05, 2003

Só um tempinho!!!


Recebi agora a pouco uma notícia bombástica e que me abalou demais, então talvez demore um pouco para eu me recuperar e escrever algo que preste de novo!!! Sorry.