terça-feira, setembro 30, 2003

Wish you were here...


E uma vez mais venho até aqui para me lembrar de ti. Paro em frente à nossa árvore, sinto com a ponta dos dedos o coração com nossas iniciais que o tempo insiste em manter vivo e perfeitamente visível. Passo novamente o filme de nossa relação; nosso primeiro encontro, os beijos, as palavras e todos os atos cometidos até o dia fatídico.
Uma vez mais eu choro; como a criança que foi privada de seus pais. Novamente eu grito aos céus perguntando como e por que foste tão bruscamente retirada de mim. Sinceramente não consigo entender o que aconteceu e como a tua ausência pode fazer tanta falta. Permaneço na floresta até a noite, ouvindo as corujas e todos os outro sseres noturnos que parecem zombar de minha dor. Novemente não resisto às lágrimas e penso em lhe procurar. Penso, repenso, planejo juro não fazer mas acabo indo ao teu encontro.
É tarde da noite quando chego defronte à tua porta. Minhas pernas parecem estar sob ação de magnetos que se não impedem, tornam o ato de andar extremamente doloroso. Toco a campainha uma, duas, dez vezes e nada. Mas sei que está em casa. Entro, revejo os móveis antes tão familiares e ouço tua voz. Uma risada; natural, tranquila e sincera; como as que você costumava me distrbiur. Subo as escadas e encontro-te abraçada. Com outra mulher. Ambas nuas, rindo à toa, se tocando. Então você se dá conta de que estou ali e seu sorriso demancha-se. Quase não tem forças para me encarar e é tua parceira quem abra a boca:
- O que você quer aqui? Não sabe que Ash não qer mais saber de você? A vaga agora é minha!
Desconsolado e em prantos ainda consigo dizer:
- Por quê? Por quê Ash? Responda!
De seus olhos azuis vertiam lágrimas e o silêncio foi sua resposta.
Tomado por um sentimento que só os que perscutaram o inferno conhecem, soltei um grito. Disforme, gutural, insano. Gritei por intermináveis segundos e, tomando de minha Walter PPK, disparei. Cinco tiros em cada uma. Lavei minhas mãos, imundas daquele ato, no sangue de cada uma e saí, tranquilamente, para a floresta onde agora estou.
Enquanto serro esta bela árvore medito sobre o que acabei de fazer e sei que minh aredenção só virá pelas minha próprias mãos. Uma vez mais acaricio minha arma e, com um único tiro, ponho fim a todo o sofrimento.

segunda-feira, setembro 29, 2003

Sorry, I´m late...


A noite, minha amiga, conselheira, ouvinte. Nada pode comparar-se à beleza da lua cheia em seu ápice. E as estrelas, lamparinas de viajantes perdidos, a iluminar o caminho dos que, como eu, seguem a trilha de sons, odores e sensações que a noite propicia.
Trabalho como barman há muito tempo e esse lugar tem sido meu segundo lar e também um campo de estudos sobre o comprtamento humano. Todos os tipos estranhos de que se ouve falar transitam por aqui. Costumo guardar seus rostos e estabelecer algumas conversas com os que me parecem mais interessantes. Muitos buscam na noite apenas refúgio para os problemas do dia ou mesmo uma válvula de escape contra as pressões sofridas em uma existência vazia. Outros querem apenas anular-se e se esconder de seus próprios demônios pessoais, haja visto que a escuridão também serve de abrigo. Estes porém são sempre engolidos por seres mais nefastos e de aparência tão agradável que só se percebe o fim quando ele está próximo demais.
Tudo seguia normalmente até ela aparecer. Pele branca, alva como a neve, cabelos negros como a noite que ela parecia encerrar no coração, mãos pequenas e olhos também negros. Chegou em meu balcão e pediu:
- Vodka! Pura.
A servi e imediatamente anotei na coronha de minha mente suas cracterísticas, para que pudesse aproxiamar-me mais tarde.
Durante toda a noite ela bebeu vodka e trocou olhares com o Japonês, um cliente habitual, cuja única característica marcante era sua total ausência de amor próprio. Trocaram olhares, nos quais ela visivelmente liquidava a já fraca personalidade de meu cliente. Como previsto ela o arrastou para fora antes mesmo do bar fechar. Imagino como ela deve ter destruído aquele pobre homem na cama!
Noite seguinte; lá está ela de novo. O mesmo vestido negro, o mesmo pedido e o mesmo processo. Estranhamente, nada do Japonês, acho que a noite foi muito boa. Novamente ela caça, domina e leva mais um ao seu bel prazer, desta vez o Beberrão. Não entendo o que ela viu naquela besta, sempre de barba por fazer e cabelo seboso, mas não é esse meu trabalho.
Noite de domingo, casa cheia, muito trabalho; mas é impossível não perceber a chegada dela. Toda de negro, soberana. Não há olhar masculino que não se volte para ela. E uma vez mais ela faz seu ritual, levando dessa vez um desconhecido.
Chega a segunda, pseudo-folga. Dois ou três fregueses, sempre que eu não conheço os habituès começam a chegar na terça. Entre um drinque e outro divago sobre a morena; seu nome, suas preferências estranhas, seus motivos. E então, como que me ouvindo, ela chega. Faz seu pedido e ao invés de ir a uma mesa recosta-se no balcão e fala:
- Noite fraca. Não há perspectiva de mais gente não?
- Infelizmente na segunda feira é isso aí mesmo.
Então ela silenciou, foi para uma mesa distante e pos-se a me olhar. E o interessante foi que não conseguia mais fazer nada direito, tão preso estava. Derrubava garrafas, confundia pedidos, errava nomes, um absurdo. Irritado, pedi 15 minutos de descanso eu fui até ela:
- O que você quer de mim afinal?
- Você nem imagina?
- ZÉ! Aguenta o tranco aí que antes das seis eu tô de volta!
- Sem problema, hoje é segunda mesmo!
Entramos em meu carro e tracei rota para o motel mais próximo. Ela me disse que conhecia um lugar melhor e me guiou a um barranco, com uma bela visão da lua. Beijei-a longamente e enquanto a beijava sentia um estranho torpor tomar conta de mim. Ela então beijou meu pescoço e o agradável arrepio inicial tornou-se dor e despertou-me a realidade. Tarde demais. Sangrando, fraco demais e ainda sem entender muita coisa tentei sair do carro, já fechado, mas era impossível. fraco e envenenado apenas ouvi um riso e a explosão do carro ao bater de encontro às pedras...

sexta-feira, setembro 05, 2003

Halleluiah


Ia eu seguindo a minha vida calmamente quando tive o desprazer de te conhecer. Deus, você conseguia ser irritantemente teimosa; uma verdadeira porta. Não havia absolutamente nada que fizesse com que nos entendessemos sobre qualquer assunto, por mais banal que o mesmo pudesse ser. Ainda assim resolvemos namorar. Loucura, numa definição mais atual e madura, era a definição de nossa relação. Não havia consenso jamais, as briga eram intemináveis e ninguém, absolutamente ninguém, conseguia entender como diabos podíamos estar juntos há tanto tempo. Mas hava o nosso segredo.
A cama; o único lugar onde a paz imperava. Paz, na verade, era um mero eufemismo; nos amávamos como loucos. Cada transa era intensa e quente como se fosse a última; nenhum de nós dois conhecia limites e muito menos vergonha. Posso ainda sentir, às vezes, os orgasmos intensos que compartilhávamos. Sim, essa era a hora da trégua e quando traçávamos nossos planos.
Ninguém sabia, até agora, de nossa atividade secreta. Saímos na madrugada, trajando negro, a assasinar mendigos e indigentes que não fariam falta nenhuma à sociedade. Os esfaqueávamos muitas vezes e lavávamos o corpo à praia, para que os caranguejos se encarregassem da "limpeza". Ao nascer do sol costumávamos nos amar.
Nossa vida consistia em um casal histérico de dia e em amantes e bebedores de sangue a noite. Éramos felizes, até sermos pegos. A maldita filha de um mendingo escapou e nos denunciou. Você, impetuosa como sempre, não quis se entragar e acabou sendo morta a tiros.
Eu hoje fico aqui, entre as grades a me lembrar e a paquerar a namorada do meu colega de cela, que vem vê-lo semanalmate.